Oi, gente.
Lá se vão 24 anos desde o surgimento da Image Comics, a editora fundada por Jim Lee, Marc Silvestri, Rob Liefeld e Todd McFarlane, entre outros, que estavam cansados da forma como a Marvel tratava seus artistas. O selo chegou a fazer muito barulho na época graças a personagens como o Spawn, mas a verdade é que a maioria de seus criadores – principalmente Liefeld – não tinha muito o que mostrar além de heróis marombados, com sérios problemas de proporção de anatomia, em histórias que se resumiam, basicamente, a muita pancadaria.
A situação foi melhorando com os anos; gente como Warren Ellis, Alan Moore e Neil Gaiman chegaram a trabalhar para a Image, e atualmente é possível encontrar histórias que fujam do padrão genérico do super-herói salvando o mundo. Duas delas foram publicadas pela editora em 2015 no formato minissérie e tiveram como roteiristas dois dos maiores pesos-pesados da atualidade: Grant Morrison, com “Nameless”, e Mark Millar, que assina “Chrononauts”. Apesar de ainda não terem chegado ao Brasil, nossa valorosa equipe de um homem só gastou algumas horas conferindo o que há de novo na terra da Image.
“Nameless”, minissérie em seis partes escrita por Morrison, teve como desenhista Chris Burnham, de “Batman Incorporated”. O autor de “Os Invisíveis” e “Homem-Animal” criou uma das histórias mais aterradoras de 2015, unindo alguns dos temas que já foram vistos em sua obra: terror, suspense, ocultismo, ficção científica, filosofia e estados alterados da mente. O personagem principal é o sujeito conhecido apenas como Sem Nome, um especialista no ocultismo que é convocado por um grupo de bilionários para se juntar a astronautas numa missão peculiar: evitar a destruição do mundo por um asteróide em rota de colisão.
Ele é chamado porque o pedregulho espacial, chamado Xibalba (“Lugar do Medo” no dialeto maia), ostenta um gigantesco símbolo místico e uma série de construções, indicando que ele poderia ser um pedaço do mítico quinto planeta que teria existido entre Marte e Júpiter. A missão, claro, vai passar por todo tipo de complicações, com astronautas e bilionários sofrendo alucinações e idas e vindas que podem deixar o leitor confuso – uma especialidade de Morrison. Mesmo que não seja o melhor trabalho do escocês, “Nameless” está muito acima da média – a não ser que o leitor ache legal saber que o Superman agora tem o poder do wifi.
Por outro lado, “Chrononauts” mostra que Mark Millar vem perdendo a mão. Há tempos que ele já escreve suas histórias pensando nas adaptações para Hollywood, tanto que o seu novo trabalho já foi comprado pelo Universal e vai seguir os passos de “Kick-Ass”, “O procurado” e “Kingsman – Serviço Secreto”. Se o deboche descarado salvava “Nemesis” do ridículo, o mesmo não acontece com “Chrononauts”, que apenas parece se levar a sério.
A trama gira em torno de dois cientistas pop stars, Corbin Quinn e Danny Reilly, que descobrem como viajar no tempo e assim registrar em vídeo momentos decisivos da humanidade. Só que a primeira viagem tripulada se transforma num desastre, Quinn acaba parando na época errada e Reilly precisa resgatá-lo – só para descobrir – que seu parceiro passou quatro anos esperando por ele e resolveu brincar de rei, imperador e mandachuva em várias eras diferentes, o que pode resultar numa série de efeitos-borboleta de proporções catastróficas.
A série, infelizmente, se preocupa mais com a ação inconsequente do que formular questões filosóficas e mostrar os prováveis efeitos no presente das mudanças no passado. Ao final, duas coisas conseguem salvar “Chrononauts” do desastre total: a arte de Sean Gordon Murphy (“Punk Rock Jesus” e “The wake”) e a cena em que Morrissey é demitido dos Smiths porque Danny Reilly é um letrista superior (!), tendo escrito ainda os maiores sucessos dos Beatles (!!!). Vamos ver se a história fica mais interessante nos cinemas.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.