Oi, gente.
As ofertas de séries e filmes nos serviços de streaming não param de crescer, e assim fica mais complicado olhar todos esses catálogos e decidir o que assistir. Acredito que o ah migo e a ah miga da coluna já viveram a situação de ter passado batido por uma série que todo mundo assistiu e comentou porque faltou tempo – no meu caso, “La casa de papel” é um dos exemplos. Por outro lado, também já devem ter experimentado a situação de alguém comentar “assisti a tal série, é legal”, e ser uma que estava (ou não) na sua lista e pimba!, ela passa na frente de todas as outras e ficamos com a sensação de “putz, deveria ter assistido antes”.
Foi o que aconteceu com “Katla”, série islandesa que estreou na Netflix em junho e que só ganhou meu play há cerca de duas semanas, quando amigos em um grupo de WhatsApp comentaram ter assistido e que recomendavam pra geral. E eles estavam certos, como é bom ter ah migos e ah migas que manjam dos paranauês.
A série criada por Baltasar Kormákur mistura a ciência com elementos sobrenaturais e do folclore islandês, e por isso mesmo vem sendo comparada com nada menos que “Dark”, uma das melhores séries de ficção científica dos últimos dez anos. A trama, porém, é menos complicada – ninguém viaja ao passado para virar corno do próprio pai, por exemplo -, mas nem por isso menos intrigante, surpreendente e bem desenvolvida.
A história se passa na minúscula cidade de Vik, que fica próxima a um dos maiores vulcões da Islândia, o Katla, que teve sua última grande erupção em 1918. Na série, porém, ele está em atividade há cerca de um ano, o que fez com que quase toda a população local fosse embora e apenas alguns cientistas chegassem para estudar o fenômeno. A região ainda foi isolada para evitar que turistas irresponsáveis corram risco de morte, e só há uma forma de chegar ou sair. Tudo está coberto pelas toneladas de cinzas que caem diariamente e se acumulam pelas ruas como uma tempestade de neve sombria.
É neste cenário que mais parece o de um inverno nuclear que a produção apresenta seu grande mistério logo nos minutos iniciais, quando uma mulher aparece na cidade nua, coberta pelas cinzas vulcânicas e sem memória do que aconteceu. Logo descobrimos que ela trabalhou no hotel local há 20 anos, sem ter envelhecido um dia sequer, e que existe uma versão “original” que envelheceu durante essas duas décadas. Outros “changelings” – como são chamados – vão surgindo, e de todos os tipos: gente que morreu há três anos, que estava desaparecida, que está prestes a morrer ou que está vendendo saúde – mas saúde física, porque a psicológica está pior que o Cruzeiro na Série B.
“Katla” é uma série de mistério, suspense e drama em que os oito episódios da temporada passam devagar, mas o ritmo lento ajuda o público a conhecer melhor os personagens, com seus dramas, traumas e conflitos, que são de todos os tipos. E é assim, misturando o sobrenatural com ciência, folclore e uma carga dramática na medida certa, que a série da Netflix faz a gente torcer pela confirmação da segunda temporada, até porque o cliffhanger deixado pela season finale foi de arrepiar.
Antes de encerrarmos a prosa, não podemos esperar o final da segunda temporada para voltar a recomendar “Ted Lasso” (Apple TV+), que é a série mais legal, mais good vibes criada pela humanidade. Sério, é impossível assistir e não sentir aquele calor no coração, ficar tão feliz a ponto de querer chorar por existir uma série capaz de nos fazer recuperar a fé na humanidade.
Duvida? Assista aos episódios quatro e cinco da segunda temporada. “Canto dos sinos”, passado no Natal, e “Arco-íris”, inspirado naquelas comédias românticas dos anos 90, são tão legais, mas tão legais, que você vai querer abraçar pessoas desconhecidas na rua – o que não vai fazer, claro, porque estamos numa pandemia.
Um exemplo do quanto a série nos faz sentir bem? Em uma cena do quinto episódio, a psicóloga do time de futebol pergunta a Ted Lasso (Jason Sudeikis) se está tudo bem, e ele responde assim: “Estou lidando com o horror de ter consciência da realidade do mundo, sabe?”. Mas ele diz isso com um sorriso tão sincero, tão otimista, tão carismático, que até nós passamos a acreditar que tudo vai ficar bem no final. É impossível não esquecer, mesmo que por 30 minutos, a desgraceira que temos vivido há 18 meses.
Por isso, assistam a “Ted Lasso” e cantem com a torcida do Richmond: “Roy Kent! Roy Kent! Ele está aqui, ele está lá, está por todo maldito lugar!”.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
(Depois que maratonar as séries, não esqueça de ouvir/seguir a playlist da coluna; tem no Deezer e Spotify.)