Oi, gente.
Toda vez que se fala em produzir spin-offs (as famosas “séries derivadas”) de algum programa de sucesso, fica a danada da dúvida: será que é disso que eu necessito, não é melhor deixar quieto? Porque nem sempre o bagulho funciona (“Joey”), mas muitas vezes vira até franquia; “JAG” rendeu uma meia dúzia de “NCIS”, o mesmo com “CSI” e “Law and order”. Mas algumas séries são tão perfeitas que surge o misto de confiança no taco do criador e o medo de estragarem o que entrou para os anais da cultura pop.
“Breaking Bad”, por exemplo. Clássico instantâneo da TV, Walter White nas alturas, final retumbante, momentos antológicos, e aí fazem um spin-off estrelado pelo advogado picareta Saul Goodman. Mas a fé em Vince Gilligan vale todos os minutos que gastamos ao assistir a “Better call Saul” (Netflix), que continua apenas meio limão atrás da série original.
Para quem imaginava que teríamos “As loucas trapalhadas de Saul Goodman” (eu, inclusive), a série derivada surpreendeu geral. “Better call Saul” tem muito de “Breaking Bad” ao mostrar a transformação do protagonista. A diferença é que Walter White foi se corrompendo no caminho, enquanto que o senhor Goodman – Jimmy McGill, na verdade – já era picareta desde os primórdios, foi apenas se aprimorando e cedendo ao lado sombrio da advocacia com o tempo.
Uma das coisas legais da quina temporada, que é a penúltima da série, é o fato de que o personagem principal (interpretado por Bob Odenkirk) ainda oscilar entre a conduta ética e a total falta de uma bússola moral em determinados momentos. O que ele faz para derrotar a própria namorada no caso do velhote que não queria abandonar a casa (“Wexler v Goodman”) é de nunca mais olhar na cara do sujeito, mas…
…O lance é que o estilo Saul Goodman de advogar, em que os fins justificam os meios, é tentador porque funciona quase sempre, e aí vemos que a série não é apenas sobre a jornada do futuro advogado sem escrúpulos de “Breaking Bad”. É também sobre a transformação de Kim Wexler (Rhea Seehorn, minha deusa), a advogada mais legal do universo mas que dá suas escorregadas para o tal lado sombrio da advocacia.
“Better call Saul” ainda encontra tempo para encaminhar outros personagens até o ponto em que foram conhecidos em “Breaking Bad”, como o vilãozão Gustavo Fring (Giancarlo Esposito), Nacho Vargas (Michael Mando), Mike (Jonathan Banks) e até mesmo o cunhado de Walter White, Hank (Dean Norris).
A última temporada promete, até porque a série já deu pistas de onde Saul Goodman foi parar depois do final de “Breaking Bad”. É esperar para ver.
Agora precisamos escrever sobre “Space Force”, série da Netflix que mostra o cotidiano da nova força militar americana encarregada de colocar “coturnos na Lua” até 2024. Conheço muita gente (três vale como “muita gente”?) que abandonou a comédia logo no primeiro episódio, naquele esquema “ou a Netflix arrebenta ou faz uma porcaria monumental”. Confesso que deu vontade de largar como fiz com “The Orville”, por exemplo, mas a série tem a assinatura de Greg Daniels e Steve Carell, criador e protagonista da versão americana de “The office”, então resolvi encarar os dez episódios.
Temporada encerrada, podemos afirmar que a série que satiriza a Força Espacial criada por Donald Trump – que já seria motivo de chacota por existir – tem pouquíssimos ótimos momentos, poucos bons, vários bem mais ou menos e alguns medíocres mesmo. Os cinco minutos iniciais de “Stress relief”, da quinta temporada de “The office” são mais engraçados que toda a primeira temporada de “Space Force”, mas a comédia mesmo assim merece uma segunda chance.
O principal motivo é a química entre os protagonistas, interpretados por Carell e John Malkovich. A dupla formada pelo general Mark Naird, que nada entende de física, astronomia, acostumado à beligerância, e o cientista pacifista Adrian Mallory, exasperado com a incompetência militar, entrega os melhores momentos da primeira temporada. O elenco em geral também é muito bom, e renderia com um roteiro melhor resolvido.
O maior problema de “Space Force” é o núcleo familiar do general Naird, que parece jogado na trama. Também temos personagens que vêm e vão sem muita explicação, mas com o devido ajuste no roteiro a série tem tudo para melhorar.
Ah, sim! Começamos a assistir à terceira temporada de “Dark”, em breve daremos nossas considerações consideráveis. Até lá, nossos 14 leitores podem aproveitar nossa playlist “…E obrigado pelos peixes” no Spotify e Deezer.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.