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“Sopa é janta?”

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Há muitas formas de ser mineiro e expressar a dita mineiridade por aí. As bordas do estado vão se misturando com os estados vizinhos e incorporam outros atributos e, dessa forma, atualizam a maneira mineira de estar no mundo. Em volta da mesa, há sempre brincadeiras em busca de uma essência genuína dessa terra, mas é difícil estabelecer limites bem delineados. Dito isso, recordo o impasse do biscoito/bolacha, o erre retroflexo do Sul de Minas, em contraste com a cadência da letra pronunciada de maneira pouco menos charmosa na Zona da Mata.

Chegamos ao ponto da polêmica de hoje: o jeito de ser mineiro da região. É de conhecimento geral o fato de que Juiz de Fora tem como principal característica a presença de quatro estações no mesmo dia. Gosto de pensar que o painel do Portinari, destacado no coração da cidade, se destine, também, a nos lembrar da imprevisibilidade climática a qual estamos sempre sujeitos. Dá-lhe efeito cebola: camada por camada, especialmente no outono e na primavera, somamos ou subtraímos camadas de roupa pelas ruas do município, a despeito da nossa vontade ou humor.
Talvez seja por influência dos vizinhos cariocas, muito acostumados a conviver com o calor pouco piedoso por boa parte do ano, que é comum ver roupas de lã, moletom e afins começarem a circular fora do armário ao primeiro sinal de um vento mais fresco. O guarda-chuvas também é outro elemento que não pode ser dispensado por um juiz-forano típico. Desprovido do objeto, a qualquer hora pode ser surpreendido por uma tromba d’água, no momento mais impróprio possível.

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Nessa mesma toada, vem a vontade de tomar um caldo, ou comida mais quente, para esquentar a alma. É ouvir a moça do tempo anunciar uma frente fria chegando e o estômago já começa a pedir por algum alimento dessa linha.

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Aqui em casa, dia desses, no início da noite, alguns legumes tomaram toda a pia, foram cuidadosamente picados e reservados pelo meu pai. Ele é um dos que esperam ansiosamente a oportunidade de tomar uma boa sopa de legumes. Foi quando ele foi surpreendido pela pergunta do meu irmão: ‘sopa é janta?’.
Importante ressaltar que, mesmo não concordando que seja, ele não deixa de se refestelar com a iguaria. Polêmica instalada, a família toda deu pitaco. Assunto que rende para mais de quilômetro. O principal argumento contra o prato é de que ele não teria ‘sustância’ para manter a saciedade por muito tempo. Ele também disse que as sopas costumam ser servidas como entrada nos restaurantes. O que não impede, no entanto, que ela possa ser a grande estrela do menu.

Não entramos na questão nutricional. A discussão que interessava era muito mais rasa, apenas no plano da classificação boba. No entanto, a panela de pressão ainda cheia era um convite para que, se batesse fome mais tarde, fosse possível fazer mais uma boquinha. A questão não foi muito para frente, já que a sopa, de janta, passou a almoço e voltou a ser janta do outro dia. Rendeu bem, na quantidade e no assunto, uma vez que agora, diante de qualquer citação, alguém imediatamente retruca: “sopa é janta?”

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