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Ritmo desenfreado

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foto: pixabay

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Como alguém que cresceu nos anos 1990 e acompanhou de perto todas as mudanças tecnológicas que aconteceram de lá para cá, percebo de muitas formas o impacto que todas essas alterações tiveram na maneira como tocamos o mundo. A distância de configuração entre o meu primeiro aparelho celular e o atual é gigantesca, mas o que causa mais espanto, no entanto, é que há pouco mais de 11 anos entre um e outro. Minha versão adolescente provavelmente diria que as coisas demoraram a chegar aqui, e mais ainda a acontecer. O eu de hoje tem consciência de que esse espaço de tempo é muito curto para assimilar mudanças tão significativas.
Mudou também o comportamento. Muitas pessoas ficaram completamente perdidas no dia que passamos sem redes sociais. O imperativo do ‘não está funcionando para ninguém’ pegou muitos desavisados e provocou um efeito de ‘o que eu vou fazer agora?’ em muita gente. Ter que encarar o mundo fora das telas, com todas as suas demandas, sem o alívio instantâneo do rolar o dedo pelo visor do aparelho exigiu certa dose de criatividade, e nos fez, inclusive lançar mão de recursos que já estão entrando em desuso, como as mensagens via SMS, por exemplo.
Contraditoriamente, enquanto aderimos a formatos como podcasts, fidelizando nossa audiência a vozes de pessoas às quais não sabemos bem a forma do rosto, mas são tão familiares a ponto de causar um certo sentimento de saudade, qualquer vídeo com pouco mais de 30 minutos de duração já causa certo cansaço.
As séries ganham espaço, enquanto as novelas parecem perder-se um pouco da audiência. É difícil encontrar desenhos animados na grade das TVs abertas. As músicas são cada vez mais curtas, e não me assustaria se daqui a algum tempo as festas parassem de tocar canções inteiras e partissem só para o trecho reproduzido à exaustão nos aplicativos de vídeos curtos e virais.
Esperar uma semana inteira ou mais por um episódio de sua série preferida não parece mais viável. Com a possibilidade de maratonar esse tipo de produto audiovisual, ninguém quer esperar para saber como será o final da temporada. Tudo muito rápido, tudo muito intenso. Um fluxo gigantesco de ideias e informações que faz com que a gente esteja com o cérebro sempre funcionando e tenha dificuldade para se desligar quando é necessário. Nos sentimos culpados quando não estamos produzindo, esquecemos como fazer para descansar, a importância de ter momentos não só de lazer, mas também de ócio. Não temos tempo de sentir, de entender, porque temos coisas demais para fazer para prestar atenção nas coisas. Muitos de nós não sabem mais como agir e inventam coisas que precisam ser feitas para preencher cada vez mais o tempo.
Como então ler e refletir sobre uma sociedade que está em uma mudança tão profunda e tão veloz, capaz de transformar radicalmente a forma como consumimos informação e conteúdo, exigindo cada vez mais criatividade, presença, trabalho e envolvimento, ao mesmo tempo em que estamos cada vez mais sobrecarregados e exaustos? Por qual motivo estamos andando tão depressa? Para que estamos tão acelerados?
Ainda não sabemos como ficarão nossas relações e os nossos hábitos depois de um ano e oito meses de pandemia. Ainda vai levar um tempo, e ainda há mudanças em curso. Há muitas obras contemporâneas que se debruçam em cenários distópicos, e é compreensível que nosso sentir esteja carregado de desânimo. Sentimos o efeito de algo inédito na história da humanidade.
Quem está muito agarrado às certezas, provavelmente ainda não percebeu que não há solidez que garanta um caminho seguro. Todos estamos tateando, buscando e encontrando nossas formas de lidar com um mundo muito diferente. O único artifício que temos para lidar com tudo, por enquanto, é a curiosidade. Enquanto pudermos manter esse olhar de interesse, vamos conseguir construir algum laço e seguir. Ao contrário do tempo que teima em correr, o que precisamos nesse momento é de paciência e serenidade. O desafio a responder é: como obtê-las?

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