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Cringe, eu?

renan ribeiro
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Estávamos vivendo, correndo atrás para ter dinheiro para pagar nossos boletos e tentando manter a cabeça no lugar, quando as redes sociais apresentaram uma expressão que tumultuou os últimos dias. Você deve ter ouvido falar na expressão “cringe” pelo menos uma vez em algum momento das últimas semanas. A gíria é responsável por encerrar uma discussão acalorourada entre pessoas da geração Z – nascidos depois da primeira metade dos anos 1990 e 2010 – e a geração Y, ou a geração do milênio – que compreende os indivíduos nascidos entre 1980 e 1995.

A palavra de origem inglesa tem sido aplicada pela geração Z para indicar uma série de ações e costumes capazes de despertar o sentimento de “vergonha alheia” pela geração anterior. Tudo isso surgiu de um post feito pelo perfil de Carol Rocha no Twitter e tomou dimensões inimagináveis, que invadiram outras redes e, agora, de tão falada, a palavra tem sido incorporada e discutida por várias outras gerações. Isso se, depois de toda a repercussão e saída da palavra de seu nicho, o uso para esse fim não tenha também se tornado cringe e, portanto, venha a ser abandonado.

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Hábitos como de tomar café da manhã, chamar a cerveja pedida no bar de “litrão”, ser fã de Harry Potter, falar que paga boleto, entre outros itens, estão entre as coisas consideradas ultrapassadas. Esses apontamentos são, justamente, o que motivou toda a discussão.

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Para quem, como eu, completou 30 anos ou está próximo dos 30, essa discussão despertou a atenção para o fato de que o tempo está correndo. Mas, ao mesmo tempo, também faz com que a gente dê um pouco mais de valor às conquistas que nos fizeram chegar até aqui. Se falamos tanto de boletos, é porque eles são responsáveis por boa parte da nossa preocupação e ansiedade. Não tem relação com o uso do papel, afinal, nós fomos testemunhas da ampliação do acesso à internet e as ferramentas digitais são parte importante do nosso cotidiano.
As bandas que ouvíamos, as séries e histórias que marcaram nossa infância e adolescência podem não fazer muito o estilo das cabeças mais jovens. Não tem nada de errado nisso. Mas é preciso entender o que significam os contextos que fizeram todos esses elementos permanecerem tão presentes em nossas falas.

As gerações marcam sua posição, muitas vezes pela negação das características das anteriores. Mas o que captura a minha atenção nesse debate, especificamente, é pensar em quais contribuições a minha geração deixa para o mundo, por que motivos ela será lembrada, como as pessoas mais jovens vão se referir a ela daqui a algum tempo e porque esses aspectos são os que foram negados pelos membros da geração Z.

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De fato, não saberia dizer logo de cara quais são as ‘trends’ dessas redes sociais que viralizam passos de dança que são repetidos até que as pessoas percam o interesse. Conheço alguns dos lançamentos mais recentes, mas não saberia responder perguntas sobre as bandas de K-pop. Prezo muito o meu cafezinho da manhã, que ajuda a despertar o cérebro, e gosto mais ainda quando tenho a oportunidade de ter conversas proveitosas com pessoas de várias gerações.

Em alguns grupos de amigos, que integram pessoas de várias idades, diferentes origens e formas de educação, tenho trocas significativas e profundas, justamente porque acrescentamos uma pluralidade grande de gostos e referências. Acredito que é possível crescer quando conhecemos a história, os contextos e os porquês das preferências de outras gerações, e espero que as gerações Z e Y possam destacar mais do que os pontos divergência, aquilo que é capaz de aproximar e somar. Que a geração Y consiga, finalmente, estabelecer uma comunicação mais aberta e eficiente.

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