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Vocativo

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Estava circulando pela rede do passarinho, quando me detive em uma mensagem. Era do perfil @mairacomacento. Nele, ela dizia: “O ‘meu bem’ é o vocativo mais bonito da Língua Portuguesa.” Ela seguiu o texto dizendo que a saudação é afetiva sem ser exagerada e cabe tanto em contextos românticos, quanto amigáveis. Imediatamente tendi a concordar com ela e compartilhei na sequência, porque me tocou.

Costumo usar o ‘meu bem’ nas relações mais próximas e, de fato, é um dos meus vocativos preferidos. Primeiro, porque traz a pessoa para perto. É como se, ao chegar, um abraço fosse oferecido, reforça a receptividade que deixa tudo mais agradável. Segundo, porque admite que a presença daquele interlocutor é algo positivo para a outra pessoa. Mostra na proporção exata que alguém é querido, sem excessos ou faltas.

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“Meu bem” também é incrível porque ele precisa, necessariamente, ser bem dito. Porque assim como me advertiu minha prima, assim que viu a postagem, a apóstrofe pode carregar uma carga irônica que sai entre os dentes, como algo raivoso, impaciente e até rancoroso. Aí, “meu bem”, definitivamente, não é bom de ouvir não, soa pedante, irritante e tem efeito semelhante ao comando “calma”, quando estamos em uma situação de nervosismo, elevando o grau de tensão.

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Incomoda também quando o “meu bem” tem, mesmo sem pretender, um tom de posse, como se a pessoa fosse um objeto, ou patrimônio. Tratar as pessoas como coisas empobrece qualquer vocativo. Tira a beleza da importância que você dá para a pessoa, quando usa a combinação, seja em um texto, ou em uma conversa.

Tenho prestado cada vez mais atenção em como as pessoas estão se comunicando e percebo uma predisposição para a falta de compreensão, que inclui a impaciência, a falta de atenção e até mesmo a dificuldade de estar presente no diálogo, visto a quantidade enorme de estímulos que desviam o nosso foco das nossas conversas. É cada vez mais frequente perder as palavras, mais comum que alguns estejam apenas dispostos a falar e não tenham a menor intenção de ouvir e isso tudo impede que consigamos aproveitar um “meu bem” bem dito.

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Fico torcendo aqui com os meus miolos, para que a gente se esforce para conseguir melhorar a nossa escuta e também para que possamos incluir nos nossos diálogos mais palavras amigáveis, gentis e bem-intencionadas, de maneira sincera, sem ironia ou agressividade, sem a arrogância da positividade tóxica. Quem sabe, partindo dos nossos contatos diretos, triviais e necessários, consigamos tornar a convivência mais agradável? Temos o poder de escolha sobre as palavras que usamos, se o intuito é fortalecer as relações, escolher melhor as palavras e, especialmente, como usá-las, pode ser um caminho interessante nesse processo.

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