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Alarmismo

pernilongo capa
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O pequeno relógio despertador, presença fácil nas bancas de camelôs dos anos 1990, nos tirava da cama aos berros. Por algum tempo, era a ferramenta que tínhamos para não perder a hora de acordar para a escola. Se os aparelhos pudessem rir, certeza que esse seria um exemplo. O som que eles faziam aumentava gradualmente. Quando chegavam ao seu ápice, o que era raro, beiravam o insuportável.

A presença dele no quarto, por si só, era aflitiva. O ritmo constante e incessante do movimento dos ponteiros, vez ou outra, soava como passos e fazia com que a mente, meio embriagada de sono, despertasse o corpo para verificar se alguma ameaça havia invadido a casa. Só depois da ronda dispensável, e já desperto, lembrava que era o bendito despertador. Revirava na cama com raiva até que Morfeu tivesse a bondade de nos enviar de volta à terra dos sonhos.

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O despertador, com o advento dos celulares, foi substituído pelo toque monotônico dos primeiros aparelhos que se tornaram populares. Havia poucas opções de toques, um mais irritante que o outro. Sua eficiência, no entanto, era inquestionável. Ao primeiro berro, não tinha como não ter vontade de arremessar o aparelho na parede. Superado o incômodo inicial, as atividades do dia transcorriam normalmente.

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Os smartphones chegaram e, com eles, a possibilidade de usar músicas como despertador. No início, escolhia as músicas que mais gostava, para que o ato de ser acordado pudesse se tornar um pouco mais agradável. Mas tudo o que conseguia era instalar ranço pela canção. Em dias, a raiva motivava a troca de faixa. Até que os toques da configuração original do celular voltassem a ser usados para evitar a antipatia pelas músicas pelas quais tinha mais apreço.

De todos os despertadores mais desagradáveis, o que encabeça o ranking dos piores, que vence com folga, é o pernilongo. Um inseto tão pequeno, um incômodo tão grande. Até quem tem sono mais pesado é afetado pela praga. A aproximação com as estações mais quentes do ano anuncia a infeliz chegada deles. É no repente que a invasão ocorre, quando a ficha cai, é tarde demais para lamentar. Eles já estão instalados e completamente à vontade. Ficam cada ano mais petulantes e com maior poder de fogo.

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Preocupa-me que a conta de luz está mais cara, o alarme dos pernilongos costuma não incomodar tanto quando o ventilador está ligado. Esse gasto, possivelmente, pode ser muito mais eficiente para tirar o sono do que o próprio inseto. Já tentamos repelentes, remédios mais naturais e, em último caso, infelizmente, será necessário apelar ao veneno. Até a instalação de telas foi cogitada por aqui, embora existam alguns complicadores que não precisam ser citados.

Pode ser puro alarmismo bobo, mas antes mesmo que o calor chegue com maior intensidade, já sofremos seus primeiros efeitos. Tenho imaginado que os ambulantes já estejam com aquelas raquetes penduradas aos montes, e a indústria de remédios para combater o aborrecimento minúsculo já esteja lucrando às nossas custas. Fato é que, para os defensores do período mais abafado do ano, talvez esse tormento seja o melhor argumento contrário em defesa das estações mais amenas. O jeito é aceitar o irremediável e tentar conviver.

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