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Faxina

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Fiz uma faxina em alguns guardados há alguns dias. Costumava ser muito apegado a cada pequeno objeto que tinha. Me espantou perceber o quanto tenho apego ao papel. E como esse suporte é importante como meio de expressão e aprendizado. Olhei folha por folha. Vasculhei cada canto em busca de algo que pudesse querer manter guardado. Percebo que, nesse tempo imerso dentro dos infinitos pontos de vista possíveis dentro de casa, consegui mudar o olhar sobre o que considero prioridade.

Essa revisão ainda não chegou em sua versão definitiva e não deve chegar nunca. As coisas sempre chegam, umas ficam com a gente por muito tempo, outras ficam um bocado e depois precisam seguir adiante, liberar espaço. Mas esse exercício de decidir o que continua sendo importante e o que é preciso deixar para trás é o mais difícil.

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O processo é amplo, faz com que a gente pense nas nossas relações, mexe com a sensibilidade, quando revisita acontecimentos que nos marcaram. Achei uma agenda com a data em que a minha primeira cachorra morreu. Me lembrei de como me senti pequeno naquele dia. De como deixei meu sentimento confuso e dolorido marcado na página da data em que ela se foi.

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Achei um bilhete de agradecimento por um favor que fiz há anos, e que demorei a consegui localizar para lembrar do que se tratava. Reli dedicatórias de livros que ganhei, juntei roupas que não me servem mais há muito tempo para doar. Me desfiz de canetas sem tinta, separei coisas que precisam de reparos, me lembrei de músicas que não ouvia há muito tempo.

Nessa viagem, que sempre exige muito de mim, também busquei jogar na caixa que seria destinada ao lixo coisas que eu não quero mais sentir. O medo que carregava em situações frequentes, pequenas mágoas que, às vezes, marcava com um comentário em algum canto de página.

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Não saberia dizer se me sinto mais leve. Pensei que esse fosse ser o sentimento que eu encontraria no final. Penso que agora, tendo ideia do que já dispensei e do que ainda preciso avaliar, percebo que ainda há muito o que fazer pela frente e que, por mais que me esforce, essa atividade é cíclica e precisa acontecer regularmente. Então, o que fica, é o processo. Ainda tenho que encarar outras pilhas de coisas, em outros cômodos, mas esse trabalho fica para outra oportunidade. Por enquanto, há outras prioridades no topo da lista.

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