Uma matéria me pegou hoje, embora seja um caso que ocorreu há alguns meses. Ela conta a história de um menino de 9 anos, que fugiu de casa. Ele foi dado como desaparecido, com registro de ocorrência e tudo. O garoto viajou de avião, sem passagens e sem documentos de Manaus (AM) para Guarulhos (SP). A reportagem conta que o garoto pesquisou na internet como deveria fazer para entrar em um avião sem ser notado.
Ele conseguiu cumprir a primeira parte do objetivo que tinha, o que é preocupante. A criança venceu cerca de 4 horas de voo, atravessando estados, em busca do sonho de morar na terra da garoa com outros parentes. Tudo parece muito grande nessa história, começando pela distância, seguindo pela ousadia do garoto, o impulso de estar sozinho, sem garantias, sem plano, sem nada. Ele driblou todas as etapas de burocracia e segurança sem ser descoberto, deixando evidentes falhas muito delicadas.
Somente se deu conta de que não sabia o que fazer na sequência, quando a aeronave pousou em seu destino final. Foi quando a brincadeira perigosa virou uma confissão, que fez a equipe da companhia aérea fazer contato com os pais.
Já tinha testemunhado outras fugas de casa ao longo da vida. A de uma menina que colocou meia dúzia de coisas em sua pequena mochila cor-de-rosa e prometeu morar na árvore que ficava do outro lado da rua. Um lanche seria suficiente para que ela vivesse lá pelo resto da vida – ou da tarde – até que seus pais descobrissem a patacoada e trouxessem a fugitiva para casa. Também soube do caso de um garotinho que desapareceu e foi parar na casa da avó, pedindo que ela não contasse a ninguém.
Esses e muitos outros casos, todos com uma inocência semelhante incluída, todos com uma clara sensação de que as crianças tinham pouca noção do perigo que uma ação desse tipo pode representar e de como elas pretendiam se virar sem qualquer tipo de suporte para caso algo desse errado.
Imagino o tamanho do desespero dos pais, os pensamentos terríveis que possam ter passado por suas mentes, a agonia da espera por alguma notícia. Enquanto na cabeça dessas crianças, uma aventura se desenrola. Mas chega uma hora que ambos, pais desnorteados e filhos fujões, compartilham um mesmo sentimento, que é o de estar perdido.
Quando essa sensação chega, a vontade de ambos os lados é a mesma: a de querer estar próximo de novo. O garoto conseguiu se comunicar, e essa história teve um final feliz. Mas fica claro como os fujões de hoje têm muito mais ferramentas para traçar planos falíveis que levem mais longe. Pobres pais dessa geração pós-revolução digital, até as fugas rendem preocupações cada vez maiores.