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Doente em isolamento

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Foto: Pixabay

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Na primeira vez que as palavras isolamento social bateram em meus ouvidos nos últimos dias, senti um frio na espinha. Corri para o banheiro para me recuperar do susto, sem me preocupar com quem estava por perto. É o que diz a sabedoria popular: “gato escaldado morre de medo de água fria”.

Não consegui evitar o sentimento que arrepiou a pele e me deixou aéreo, cheio de interrogações, medos e inseguranças. As mesmas que senti por volta dos 11 anos, quando entrei em uma ambulância pela primeira vez e fiquei isolado de tudo o que considero importante por cerca de uma semana.

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A escola onde eu estudava passava por um surto de catapora, e eu estava naquela fase do fim da infância e início da adolescência. Já tinha atingido muitas turmas, de várias faixas etárias. Tinha conseguido desviar da infecção viral, até que ela chegou à minha casa. Meu irmão pegou, e alguns dias depois, eu também estava todo cheio de manchas, feridas na pele e sentia uma coceira de matar.

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Fiz o rito recomendado pelo médico. Banho roxo de permanganato de potássio e tudo o que era preciso. Quando achei que estava vencendo a doença, com a secagem das feridas, a coisa toda se agravou ainda mais, a ponto de eu ter que voltar à unidade de saúde. Nesse momento fui apresentado ao significado real da palavra isolamento.

Já tinha passado por um estirão. Quando cheguei ao hospital, tinham preparado um leito para criança pequena. Recordo até hoje que fiquei esperando um tempo até que providenciassem uma cama que comportasse a altura que eu tinha na época.

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Um longo corredor escuro, onde não se ouvia a voz de ninguém. O único som era o que a televisão fazia, distante. Não podia andar para lado nenhum. Sete dias restrito ao quarto e nada mais. Havia dois outros meninos com meningite no mesmo andar. Eles não poderiam ter contato comigo e nem eu com eles. A maioria venceu e eles ficaram com a televisão. Não tinha celular, nem streaming de música, nem de filme, nem de série. Só o que havia na época eram os livros. Salvação da minha lavoura.

Fui apresentado ao Harry Potter no isolamento. Isso foi incrível. Abriu-se um mundo fantástico para mim. Agradeço até hoje o empréstimo dos dois primeiro livros pela prima Mariana. Solidariedade é algo que salva a vida da gente.

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Também tive a companhia da Turma da Mônica e do Seninha. Mas os livros e quadrinhos acabaram, e os dias de isolamento se alongaram além das páginas. Até para tomar banho tinha hora certa. O tédio me cercou de todas as formas possíveis.

Isolamento quer dizer que não vai ter visita entrando para te ver. Tinha a companhia dos meus pais, que se revezavam, e das enfermeiras, com quem acabei firmando amizade. A caridade ajuda a gente a manter a cabeça sã. Os profissionais de saúde merecem mesmo o nosso reconhecimento e o nosso carinho, não só por isso, mas por todos os seus esforços.

No ócio, com poucas ferramentas, a hora parece demorar mais para passar. Todas essas sensações voltaram com força na minha pele, na minha cabeça, no meu coração. O que aprendi, naquela situação, levo para esse caso. Cuidei mais da minha espiritualidade. Seguia à risca todas as orientações dos profissionais da saúde. Busquei descansar o corpo e a mente. Também tenho tentado manter a cabeça no presente, sem me desesperar com o que pode vir a acontecer. Penso que assim como chegou o dia da minha alta e pude ver de novo o céu além da moldura da janela, também vamos poder retornar à nossa rotina depois que tudo isso acabar. Isolamento é uma experiência, assim como qualquer outra, e também passa!

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