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Aos mestres, com carinho

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Em casa, minha mãe sempre alertava: “Aqui, quem dá a ordem sou eu. Dentro da escola, quem dá a ordem é o professor.” Esse mandamento era seguido à risca por mim e por meu irmão. Não que não tenhamos errado. Precisei discutir com alguns professores durante a adolescência, em função de discordâncias em situações pontuais. Me cobrava demais e acabava cobrando alguns professores também. Tinha medo de não conseguir estar preparado o suficiente, quando as provas exigissem. Nenhum desses casos, no entanto, chegou ao desrespeito ou à agressão, como vemos em cenas lamentáveis com carteiras arremessadas e professores traumatizados.

Tive uma professora de Língua Portuguesa chamada Keturiny, quando estava na antiga 5ª série. Ela apresentava o conteúdo e reservava os últimos minutos das aulas para contar histórias. Eu adorava quando ela lia os contos dos irmãos Grimm. Nem sempre dava tempo de chegar ao desfecho. Ela fechava o livro e ia para a próxima turma, nos deixando com a mente fervilhando de ansiedade pelas próximas páginas. Na mesma época, em casa, vivíamos tempos de vacas magras. Eu queria participar do coral de Libras da escola, mas meus pais não tinham como comprar o uniforme. Os professores Cristiano e Luciana entenderam o quanto estar no coral era importante para mim. Eles tiraram o dinheiro do próprio bolso e me deram a camisa. Mesmo sem ter a menor obrigação, foram muito além da didática. Eles ensinaram muito, não só sobre a Língua, mas também sobre inclusão.

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Antes de todos eles, tenho a tia Lúcia, minha madrinha de vida. Professora de História, que era considerada linha dura pelos alunos, mas sempre ensinou com toda disponibilidade e amor. Ela se sentava com a gente à mesa, explicava tudo minuciosamente e ainda nos tirava risadas com o seu jeito de abordar as passagens. Com ela eu descobri que a História é apaixonante. Do outro lado, os números nunca foram meu forte. Sempre me trouxeram preocupação. Foi aí que eu conheci o Chicão. Fui de uma das últimas turmas dele antes da aposentadoria. Chicão explicava a Física se preocupando em demonstrar todo o percurso, todos os porquês. Ele tornou o ensino da matéria mais leve e ainda mostrava curiosidades aplicando os conceitos ao dia a dia.

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Outra professora a quem eu tenho uma vontade enorme de agradecer é a Wanda. Ela também ensinava Língua Portuguesa. Certa vez, ela pediu uma redação. Nosso mínimo era de 20 linhas. Embarquei na criatividade e escrevi quatro páginas, mas entreguei com vergonha. Ela me devolveu a redação com algumas indicações de pontos a melhorar e fez questão de me pedir que eu não deixasse de escrever. Bom, quando me vejo aqui digitando essas palavras, percebo que levei o conselho dela bem a sério, fazendo das palavras o meu alimento.

Nas escolas públicas pelas quais passei, poderia citar muitos outros exemplos. Profissionais comprometidos com o ofício de jogar luz sobre o mundo, compartilhando o conhecimento que eles receberam ao longo de suas vidas e de suas formações. Sei que alguns deles estavam cansados e desanimados com os percalços e as muitas faltas existentes. Porém, eles sempre seguem em frente – e até nisso nos ensinam. Sonho com o dia em que eles serão respeitados e reconhecidos como deveriam ser. Eles encaram de frente as mazelas e as desigualdades e lutam para construir uma ponte que permita atravessar o abismo, ainda que essa não seja sua responsabilidade e nem a sua atribuição. Devemos grandes reverências a esses profissionais. Sempre é tempo.

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