A notificação cantou no celular. Ocupado, detive minha atenção por alguns segundos no que estava fazendo.Em seguida, li a mensagem. A vibração que o celular causava na mesa me despertava certa ansiedade. Por algum tempo, mantivemos uma relação conflituosa. Antecipava males que nunca se tornaram reais. Agora busco manter certo distanciamento. Lido com o que posso lidar e me esforço para não sofrer. Assim vamos caminhando.
Aquela notificação era um pouco diferente das que costumo receber. Dentro de uma pandemia, receber um convite me causou certa estranheza. Na verdade, era um aviso: guarde a data. Mas antes dele, uma lembrança ótima, em foto, de um dia inesquecível. Nela, eu sorria ao lado de bons amigos. Um deles, não habita mais o nosso plano. Mas sei que está em paz, onde quer que esteja.
A amizade é laço bem feito. Daqueles nós que não se soltam nem com reza brava. ‘Que nem a força do tempo pode destruir’, como canta o Fundo de Quintal. Bastou uma conversa para que eu percebesse. O laço que meu amigo e eu amarramos lá atrás, segue inteiro, no mesmo lugar. Os assuntos fluiam, exatamente como era quando lidávamos diariamente. As risadas sobre as situações que dividimos eram tão sinceras quanto agora. E eu me vi torcendo para que a pandemia termine e eu consiga estar com ele, naquela data do convite. Dessa vez, para criar uma nova memória e celebrar outro laço que se consolida, o matrimonial, entre meu amigo e a noiva dele.
Foi de outra grande amiga que fiz ainda no ensino médio, que recebi um livro cujo título me causa impacto, toda vez que passa por mim: “Longe é um lugar que não existe”, que ela me deu no dia da minha colação de grau. Foi dos abraços mais emocionantes que já recebi. Ela sempre vai saber o quanto é importante para mim. É isso o que importa. Sei que ela tem ciência de que construímos bases sólidas. Quando nos encontramos, é como se nós tivéssemos nos visto no dia anterior. Assim, descobri que distâncias físicas não abalam amizades. Nem quando as pessoas mais próximas precisam se mudar para Estados que ficam a muitos mil quilômetros de distância ou se precisam estar a um oceano de nós, em outro continente.
De outra janela virtual , também dias atrás, recebi um áudio. Nesse, além de sorrir por conta de lembranças tão sólidas quanto uma âncora, quase derramei lágrimas. Uma grande amiga se queixava da saudade que sentia. Lembrava algumas turbulências pelas quais passamos juntos. Dando força um para o outro. Sentia o laço apertar, mesmo estando distante, mesmo sem ter como encontrá-la pessoalmente, por enquanto.
Por outra via, também lembrei de amizades que achei que fossem se tornar nós seguros, que com o tempo afrouxaram e se desfizeram, afastando as embarcações das nossas vidas. Algumas vezes, ver alguém que considerávamos um amigo passar por nós e virar o rosto é doído. Mas os arranhões fazem parte da experiência.
O ditado ensina que mar calmo não faz bom marinheiro, porém, remar sozinho não nos leva muito longe. Nas águas agitadas que vivemos, quem tem amigo de verdade, passa pela tormenta mais forte. Inclusive, acredito que amigos saiam dessa ainda mais unidos, porque podem dividir a alegria de encontrar novos portos seguros juntos, quando tudo estiver mais calmo.