Fez um ano ontem.
É estranho que pensar nisso ainda provoque tanto desconforto. Me lembro do dia em que a notícia se tornou mundial. A declaração da Organização Mundial da Saúde deixou a todos sem voz. Havia uma sensação de que seria por pouco tempo. Uma semana, quinze dias e nada mudaria drasticamente. No fatídico 18 de março de 2020, as equipes da Tribuna de Minas se juntaram no início da tarde. Uma conversa ampla com a grande maioria dos repórteres, editores e diagramadores. Uma conversa ampla, difícil, cheia de dúvidas e inquietações sobre o vírus.
Não havia protocolo. Não havia indicação de uso de máscaras. Ninguém usava álcool gel nas mãos com tanta frequência. Me lembro de me sentir muito acolhido pelos meus amigos de redação naquele dia. Muita coisa mudou a partir daquele momento.
Em um ano vivemos várias fases. No primeiro momento havia um otimismo e, dentro de ciclo mais próximo, uma certa união, as pessoas estavam motivadas a fazer esforços para combater a doença. Começaram a aparecer as primeiras informações mais consistentes sobre o tal vírus. Começamos a receber informações sobre a forma de transmissão e de como o número de casos aumentava no mundo.
Chegaram os primeiros casos na cidade. O relato de um advogado infectado em uma viagem de trabalho foi o primeiro que reportei nas páginas do jornal. Dele, ouvi que não se tratava de algo simples. Que ele pensou, durante o que passou, que não voltaria a ver o Sol. Depois desse caso, muitos outros vieram. O boletim epidemiológico nessa semana indica que 900 famílias juiz-foranas perderam um ente querido.
Receber e incluir vítima por vítima na contagem, diariamente, tem um efeito que eu ainda não tenho palavras para explicar. O que eu sei dizer é que dói. Todos os dias penso no luto de cada uma dessas famílias. Me preocupo também com as dificuldades pelas quais passam as pessoas que estão internadas e os profissionais que cuidam delas. Eu não consigo me acostumar. Também não saem da minha cabeça as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade. Trabalhadores que perderam seu sustento, comerciantes que estão sofrendo o impacto da crise financeira que o período provoca. Eu me coloco no lugar de todos.
Um ano é um tempo em que muitas coisas acontecem. Uma vida pode ser gerada, um curso concluído, uma ideia aperfeiçoada, uma carreira iniciada, um projeto se torna concreto, um livro pode ser escrito, um hobbie pode ser aperfeiçoado, alguém pode ser curado por um tratamento e eu poderia ficar aqui até amanhã. Mas tem um ano e a impressão que fica é a mesma de um ano atrás: a incredulidade diante de tudo o que a pandemia significa.
A diferença de um momento para o outro é que agora estamos exaustos.
Sentimos falta de muitas coisas que são fundamentais e já temos muito mais informação qualificada sobre como o vírus atua. Temos ideia do que é preciso ter e fazer para superar a pandemia, mas, ao mesmo tempo, vemos a situação se agravar drasticamente. Eu adoraria poder falar de algo que fosse mais palatável para trazer um alento a todas essas sensações. Mas a noção de estar a um ano imerso em todo esse quadro não me permite pensar em outra coisa neste momento.
Eu miro minha esperança nas fotos de pessoas idosas e dos profissionais de saúde que dividem nas redes a alegria e o alívio da carteira de vacinação assinada. Nas notícias que chegam de pessoas que conseguiram se recuperar da doença. Nos esforços conjuntos empreendidos para que não falte alimento na mesa de ninguém, na luta para que direitos fundamentais não sejam perdidos. O que eu espero é ter um ano diferente do que foi o último. Que todos nós consigamos respirar livremente.