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O belo no ordinário

Plantinha edit
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A paciência com as redes sociais anda meio em baixa. Às vezes, a impressão que dá é que já vimos tudo que há de interessante. Estamos sempre em busca de algo novo. Ficar arrastando o dedo infinitas vezes pela tela não faz com que surja algo para atender a essa necessidade.

No início de tudo, as telas representavam um certo alento. As lives pipocaram por todos os cantos. Esperávamos afoitos pelo anúncio do show dos nossos artistas favoritos. Quando esse anúncio acontecia, o evento era marcado na agenda como um compromisso presencial. As chamadas de vídeo também começaram a fazer parte da rotina. Alguns ficam horas no papo sem perceber, outros usam artifícios como telas congeladas e falhas no sinal para fugir delas.

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As horas que passamos escolhendo algum filme em catálogos on-line ficaram mais demoradas, porque zeramos boa parte das séries e filmes que havia na lista. A coisa toda vai evoluindo de modo tal que, quando menos percebemos, estamos jogando adedanha on-line, com vários amigos, ou em grupos anônimos, só para passar o tempo naqueles domingos que se estendem toda vida.

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Aí começamos a prestar atenção em detalhes que passavam sempre batidos. Se fizerem uma pesquisa daqui a alguns meses, vamos perceber que vários jardineiros, padeiros e artesãos nasceram com a quarentena. Ocupar a cabeça com esses novos conhecimentos também se tornou um exercício muito presente.

Num desses momentos de distração, dois vídeos me despertaram a atenção. No primeiro, em poucos segundos, foram apresentadas situações em que crianças davam de cara com seus ídolos. Eram atletas de modalidades diversas e cantores. A expressão de um menino se destacava. Da arquibancada, ele acompanhava feliz o fim ou o intervalo de uma partida. Não percebeu quando um jogador chegou até ele. Inerte, quando percebeu de quem se tratava, ele recebeu o cumprimento do rapaz e um taco, que o jogador deixou de presente para o garoto. A reação de incredulidade diante do extraordinário foi o que permaneceu na mente.

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Depois, um vídeo em que um garoto, que acabava de receber a aprovação da banca do trabalho de conclusão de curso, o temido TCC, saía para a rua para acompanhar a carreata que foi feita em homenagem à conquista dele. Ele chorava muito. Confesso que caiu um cisco no meu olho também. Há dias em que as emoções ficam à flor da pele.

O distanciamento social dificultou um pouco os encontros que geram ocasiões memoráveis, o que é lamentável. Mas também ajudaram a guiar o olhar e o toque na busca pelo que é inimaginável dentro do que sempre esteve diante de nós. Essa mudança de perspectiva ajuda a tornar algo muito banal, como o nascimento de uma folha de planta que não se desenvolvia, algo especial. Quem sabe um dos recados desse tempo de exceção seja esse?

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