Meus veteranos da faculdade, sabiamente, estamparam uma camisa com uma imagem do Chacrinha, ao lado da máxima, que eu considero absolutamente pertinente e cada vez mais atual. Vejo que a nossa capacidade de comunicação, sem a possibilidade de encontros presenciais e sem o auxílio das expressões faciais, têm nos deixado em situações ingratas. É mais difícil ler as entrelinhas, pegar o significado dos silêncios e as mentes mais agitadas vão longe na interpretação dos sinais que enxergam, muitas vezes, inexistentes.
Há quem deixe de falar para não provocar mais confusões, ou distorções, ou interpretações equivocadas. Mas o não falar é uma escolha que merece tanta atenção quanto um diálogo entre pessoas prolixas, que sempre têm muito a dizer. O que se evita falar também quer dizer muito. Passamos a vida tentando encontrar a maneira certa de emitir opiniões, de tocar em assuntos delicados, ou para aprender a dizer não. O não, não é fácil, definitivamente. Mas é necessário.
Também aprendi que o extremo da sinceridade é a falta de educação. Quem fala tudo que vem à mente, sem filtrar, sem pensar, costuma escorregar feio e cria relações conflituosas e desconfortáveis, que geram a sensação de que há um elefante na sala. Ninguém toca no assunto, mas todos percebem com nitidez a presença de um clima tensionado no ar.
Criamos expectativas a respeito do que queremos que as pessoas percebam, sem que a gente precise vocalizar. No entanto, até o óbvio precisa ser dito. Porque o que está dado, também depende do ponto de vista e da percepção de cada um. Também na época da faculdade aprendi que precisamos respeitar o conhecimento e a ignorância das pessoas. O que também é algo fundamental para que todos consigamos nos comunicar com maior eficiência. Mas isso exige sensibilidade e, nem sempre, encontramos pessoas abertas a essa troca.
A normalização do cansaço que vivemos, em função de todas as tensões e sobrecargas às quais estamos expostos, também nos faz recuar e economizar as palavras e ainda tira a pouca paciência que ainda nos resta. O que também, certamente, atrapalha o processo. Estamos constantemente imersos em problemas de comunicação e eu adoraria ter uma solução concreta e eficaz para apresentar.
Não há atalhos e nem caminho mais fácil. Precisamos, cada vez mais, do exercício da empatia, do esforço de compreensão sincero e da abertura para o outro. Isso leva tempo e exige uma maleabilidade que nem sempre nossas rotinas possibilitam. Por ora, retorno ao Chacrinha, do jeito que as coisas estão: “ninguém veio para explicar, veio para confundir”. O que demonstra que, nem sempre, falar a mesma língua é garantia de que as pessoas vão se entender. Mas se combinarmos direito, todo mundo pode se entender certinho.