Os professores iniciavam suas explicações dentro da sala de aula e logo começavam a chamar a atenção: ‘vamos parar com as conversas paralelas!?’, ‘deixa a turma participar do assunto de vocês também, parece estar tão interessante’. Havia uma necessidade de dividir qualquer aleatoriedade, um comentário avulso, ou apenas assunto demais para dar conta, nos curtos intervalos entre uma matéria e outra. Os 20 minutos de recreio não eram suficientes.
As reuniões familiares também foram sempre preenchidas por conversas paralelas. As vozes são naturalmente altas, quando juntas soam como se uma briga generalizada estivesse acontecendo, sem ninguém para separar. Nenhum assunto é encerrado completamente, as palavras e os causos se intercalam, até que você nem se lembre mais sobre o que estava debatendo antes. Mesmo perdido, pega outro fio e inicia uma meada nova, até que o assunto acabe ou se levante uma outra prosa e chegue perto para dar pitaco.
Mas as minhas conversas paralelas preferidas são aquelas completamente aleatórias. Quando a necessidade de socializar transborda e, independente de onde você está e de quem está perto, esteja interessado ou não, se torna o interlocutor perfeito para receber o que se tem a dizer.
Há alguns lugares absolutamente propícios para que esse tipo de papo surja, em geral, filas de supermercado, farmácias, lotéricas, shows e até mesmo na fila à espera da vaga no sanitário; pontos de ônibus, nas portas de colégios no horário de saída de estudantes, em balcões de bares, padarias e lanchonetes, nas rodoviárias, nas praças, em lojas, em feiras, nos táxis, nos ônibus e nos carros de aplicativos, entre outros.
Quando as duas pessoas estão dispostas a se dedicar àquela interação, há trocas absolutamente interessantes que surgem de um comentário bobo sobre o tempo ou sobre o tráfego sobrecarregado do Centro.
Há pouco tempo, aguardava um ônibus para voltar para casa, junto com uma amiga, quando começou uma conversa paralela. Um confeiteiro contava que havia se mudado para a cidade há alguns meses. Ele contou que é apaixonado pela profissão e pela ruiva que é o amor da vida dele. Mas que estava difícil trabalhar.
A todo momento, ele perguntava se estava incomodando e seguia contando sobre a própria vida. Sobre o que pensava das coisas e o que ele gostava de fazer em sua folga. Assim como começou a falar, nos cumprimentou, se despediu e foi embora. Eu e minha amiga imaginamos que ele também estivesse esperando a condução, mas, aparentemente, ele só precisava que alguém o ouvisse. Nem sempre as conversas paralelas são tão agradáveis ou interessantes, mas para quem tem um pouco de paciência, há sempre algo de legal que se pode levar para a vida. Nesse dia, foi o sorriso, o orgulho e a satisfação daquele moço em falar de sua própria história.