Acompanho uma série de livros que se tornou uma das minhas preferidas nos últimos meses. Nas páginas da editora que os publica foi postada uma imagem da capa de uma possível continuação. Embora eu já estivesse muito desconfiado daquilo, parte de mim ficou absurdamente animada. Mandei a imagem para alguns amigos, já sabendo que sofreria com suas respostas, e a decepção se confirmou. Nada de continuação. Era sacanagem. Primeiro de abril e eu caí de novo.
Para quem ainda cultiva a crença na boa fé das pessoas, na palavra delas, também foi duro ouvir o desabafo de um trabalhador do Rio de Janeiro, após ser humilhado por seu patrão em um grupo da empresa. A mensagem soava degradante, mas ao mesmo tempo despertava um quê de alegria. A identificação imediata com todo aquele drama, que envolvia chuva, perder pertences e ficar ilhado, era muito doída, assim como a constatação de que no Brasil o trabalhador segue sendo alvo de desrespeito, desprezo e de um olhar desumanizador, destituído de qualquer empatia. A mesma mensagem também desperta certa esperança, ao vermos que esse mesmo funcionário, no fim das contas, conseguiu romper com todo esse sistema.
Pior foi acordar sabendo que o áudio não é real. Que foi inventado por uma equipe de um canal da internet. A revolta contra o patrão abusivo é muito crível, pegou um monte de desavisados. Passada a decepção, ficou uma baita reflexão a ser feita, sobre como estamos pautando as relações entre os trabalhadores e empregadores. Mas não vamos entrar nesse mérito, porque isso demandaria muitas páginas de jornal.
Quero me ater a esse momento de susto. A essa revolta, que por alguns segundos se tornou a angústia e a redenção de muitos labutadores pelo país, justamente por ter viralizado nas redes. Não vou defender as palavras usadas no áudio fictício, porque acredito que elas não tenham sido as mais adequadas. Mas também não o julgaria, já que as próprias leis de Newton dão conta de que “para toda ação sobre um objeto, em resposta à interação com outro objeto, existirá uma reação de mesmo valor e direção, mas com sentido oposto.” No entanto, preciso reconhecer que ele conseguiu lavar a alma de muita gente.
Todos os anos os mais distraídos e aqueles que cultivam a tal da boa fé sobre a qual falava lá em cima são bombardeados por pegadinhas no dia dedicado à mentira. Ninguém sai ileso, nem os mais safos. Todo mundo já caiu em pelo menos uma ou outra “brincadeira” do tipo.
Essa é uma das datas que eu menos gosto no ano, justamente por ser muito distraído e por procurar sempre acreditar nas pessoas, até ter motivos concretos para desconfiar delas. Me vejo caindo como um patinho nessas pegadinhas. Já dei parabéns para pessoas que não faziam aniversário no dia, mas disseram o contrário; já liguei para casa para saber se tinha havido alguma coisa depois de ouvir uma história assustadora; enfim, fui feito de trouxa um bom par de vezes.
Nas últimas eleições o termo fake news saiu do 1º de abril e se espalhou pelo país inteiro, sendo, inclusive, usado amplamente pelas campanhas. Fez com que todo mundo ficasse ressabiado ou compartilhasse inverdades – se não tivesse o mínimo de perícia – e foi combatido veementemente por bravas agências de checagem de fatos, que eram verdadeiros oásis no meio de tanta lorota.
Triste é pensar que essas situações estejam cada vez em voga por todo o país e tenham um efeito tão devastador. Como no fim de semana, quando alguém inventou a morte de um dos padres da cidade, com a história de que ele teria sido envenenado por uma serpente, causando alarme e deixando vários fiéis desesperados.
Mineiros, que sempre levaram a fama de ser desconfiados, estão perdendo o título por se deixarem alarmar e desesperar antes de buscar verificar as informações que recebem. E o que chateia no fim das contas é se perceber descrente no que o outro fala, enquanto a mentira, que antes tinha pernas tão curtas, se alonga, se agiganta e pisa na cabeça e na boa fé de todo mundo.