Dia desses, diante do espelho, percebi com mais atenção dois fios brancos na barba, além dos que já habitam o couro cabeludo. Foi a primeira vez que reparei alguns sinais do tempo em mim. Na semana passada, encontrei um priminho que está prestes a completar o primeiro ano. Tendo acompanhado a gravidez da mãe dele e recebendo notícias frequentes de seu desenvolvimento, me assustei ao pegá-lo no colo. Poucos meses sem o contato físico e ele parece muito maior e muito mais esperto do que eu me recordava.
Ontem peguei o calendário, em algum momento do dia, para planejar algo. Outro susto: mais um respiro e o primeiro trimestre vira ontem. Nas redes sociais não param de chegar recordações de coisas que ocorreram há quatro, seis, dez anos. Eu não me recordo de ver o tempo passar tão rápido em outro momento da vida.
Tive algumas conversas sobre isso ao longo das últimas semanas e venho percebendo que, mesmo com percepções muito individuais, as outras pessoas vêm registrando sensações semelhantes. Há algo acelerando a percepção da passagem de tempo que temos. É o mesmo sentimento que eu tinha enquanto via a areia azul de uma ampulheta correr pelo pequeno espaço em que escapava de um lado para outro: rápido demais!
Eu pensava sobre coisas que tenho vontade de fazer, de aprender, e nas quais pretendo me aperfeiçoar. Me decepcionei ao perceber que falta tempo para tudo; que chegar ao que eu quero vai ser mais demorado do que eu gostaria. Não estou dando o braço a torcer. Jamais. Mas gostaria que as coisas fossem menos corridas para aproveitar melhor o momento.
Vi alguém comentando que o dólar bateria facilmente o valor de R$ 5. Mas, nessas divagações, eu temo que daqui a algum tempo, o tempo esteja com uma cotação maior que essa. Não me surpreenderia nada se já estivesse.
Sou cobrado por séries que eu ainda não vi, por livros que permanecem intocados na prateleira, por passeios que não consegui realizar, por programas que passaram e eu perdi, por visitas que estou devendo, por estar ausente de algum lugar. Todos os dias me questiono o que tenho feito com o tempo que me é dado. Me irrito por deixar tanto para trás, por não conseguir abraçar o mundo com as duas pernas e os dois braços, como eu queria fazer. E embora faça mais coisas do que seria capaz de enumerar, a cada dia durmo menos e a cada momento arranjo uma nova tarefa para somar às que estão acumuladas.
Enquanto tento estabelecer uma relação mais amigável com o tempo, e ele parece rir da minha cara, permaneço imerso em minhas questões. Reconheço que não vai dar tempo. O Universo é infinito, eu não. É preciso se colocar nesse lugar pequeno e entender que nos cabem escolhas. Não vou conseguir fazer tudo, então é hora de fazer o melhor que puder.