Entrou no carro do aplicativo com a rota pré-definida. Sentou-se após cumprimentar o trabalhador, cruzou o cinto de segurança sobre o tronco, antes que o motorista arrancasse. O condutor fez o contorno com veículo e foi na direção que o GPS indicava. O passageiro é um motorista profissional, com mais de 30 anos de profissão, que precisava se deslocar com rapidez para dar socorro a outro motorista que estava parado com problemas mecânicos, no mesmo bairro.
Pelas poucas palavras que disse, foi possível perceber o sotaque, que indicava outra nacionalidade. Percebendo que o condutor seguia exatamente o caminho designado pelo celular, o passageiro, que conhece bem a região, teve a iniciativa de informar que havia atalhos que podiam fazer com que a viagem fosse mais rápida, que era nitidamente um objetivo em comum entre os dois.
Com uma negativa incisiva, o homem que estava na direção informou que seguiria à risca as orientações do telefone, que com uma linha preta marcava o trajeto mais longo e mais demorado. Não tinha como o condutor saber sobre a experiência do passageiro que levava, a menos que perguntasse a respeito. Porém, ele insistia em ouvir a voz da tecnologia e não demonstrou curiosidade alguma a respeito do conhecimento que o viajante tentava dividir.
Intrigado com a cisma do motorista, o passageiro insistiu em oferecer outra dica. Não havia intenção de causar constrangimento, ou necessidade de demonstrar gratuitamente qualquer sinal de arrogância ou superioridade, existia apenas a pressa e vontade de ajudar. Seus esforços de empreender uma comunicação eficiente com o interlocutor não renderam resultados. O motorista manteve o trajeto conforme o roteiro que a tela do celular indicava.
No banco do passageiro, não tinha como saber se o motorista tomava aquela atitude por conta de alguma desconfiança que tivesse a respeito das intenções dele, ou se ele, de fato, tinha como diretriz sempre seguir o trajeto indicado pelo GPS ou ainda o desconhecimento sobre aquela região.
Chegaram. Eles não conseguiram falar a mesma língua, por mais que tenham se esforçado para isso. O passageiro tentou pela última vez: explicou que ele poderia descer por um caminho, que o faria chegar mais rápido à via principal, por onde poderia seguir para outros pontos da cidade. Viu o cara se afastar exatamente pelo mesmo caminho que veio, contrariando, novamente, todas as suas sugestões.
O motorista com sotaque espanhol deixou de aprender um caminho, de trocar uma ideia e preferiu dar ouvidos apenas às instruções geradas pelo telefone. Deve ter os motivos dele. Escolheu não ouvir os conselhos e, teimosamente, fazer do jeito dele. Paciência. Seguir cegamente a tecnologia nem sempre leva aos melhores caminhos, mas também é fundamental respeitar as escolhas alheias. Quando um não quer, dois não conversam e vida que segue.