As discussões que travamos entre as pessoas que preferem o calor e as que se sentem melhor no frio parecem frívolas, porque nunca se chega a nenhuma conclusão consistente, mas ao mesmo tempo, a divergência pode tornar a convivência para lá de difícil. Imagine um ambiente de trabalho em que há muitos friorentos e muitos calorentos. Se há um ar condicionado instalado entre eles, acabou o sossego. O controle do aparelho troca de mãos e fica a mercê dos desejos antagônicos, enquanto o clima segue inabalável o seu trânsito, completamente alheio às nossas vontades.
Dito isso, devo me posicionar e dizer que, nesse embate, estou do lado de quem é mais sensível ao calor. O dia a dia nessa época do ano se torna mais cansativo com as altas temperaturas. O suor que não respeita nem o banho, já que mal saímos debaixo do chuveiro e o corpo responde se desmanchando na testa da gente. O ventilador até alivia, mas agora, até ele tem jogado ar quente na nossa cara. Além disso, também lidamos com a indisposição do corpo de fazer determinadas tarefas, a vermelhidão na pele a qualquer exposição um pouco mais alongada ao sol, a boca que fica seca o tempo todo; e até o deslocamento no ônibus, que talvez seja a pior parte.
Quem está do lado de cá começa a perceber que o friozinho, que nos faz tão bem, vai ficar cada vez mais raro. Algo que os mais velhos sempre diziam: ‘vocês não conheceram os invernos rigorosos’, fica mais distante ainda. As notícias não são animadoras. O resultado do ataque ao meio ambiente que o homem vem intensificando, tem uma contribuição fundamental nesse quadro. Acabamos de viver o setembro mais quente da história, desde que os registros começaram.
Os pesquisadores do Copernicus Climate Change Service (C3S), que é um serviço de observação da Terra da União Europeia, mostraram, nessa semana, índices impressionantes, que indicam um acréscimo de 0,05ºC na temperatura, que parece inofensivo. Mas só parece, porque o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) fez um alerta sobre o risco de morte por hipertermia. Há recordes de temperaturas altas sendo superados a cada dia pelas cidades brasileiras.
Gostaria de levantar algum ponto que fosse positivo, porém, no momento, não consigo. Nessa semana, como se não bastasse o calor, a casa foi invadida pelos pernilongos, que são os piores penetras que se pode imaginar. O problema é que, dessa vez, eles não vieram sozinhos, trouxeram uma revoada de cupins.
Quando amanheceu, além do sono que foi completamente afetado pelo combo de calor e insetos, havia asinhas de cupins espalhadas por todo o lado. Pela pele, as marcas vermelhas deixadas pelos indesejáveis causaram coceira. O triste é ter que reconhecer que será necessária a adaptação, porque a tendência que se mostra cada vez mais consolidada é a de que as temperaturas fiquem cada vez mais altas, e os insetos, cada vez mais presentes.
Toda vez que penso em todas essas alterações, a imagem que se forma na minha mente é a de um comercial antigo, em que as pessoas deixavam tudo o que faziam e corriam para a janela para ver um beija-flor. Como se fosse um evento de grande magnitude. Hoje, percebo que era, de fato. Não era o exagero que eu pensava ser. No ritmo intenso em que as coisas caminham, as próximas adaptações me parecem tão difíceis quanto lidar com esse calorão.