Os enfeites empoeirados começam a ser retirados de caixas e pacotes, depois de ficarem meses esquecidos nos armários. Aos poucos, vamos percebendo a chegada do último mês do ano. Sempre escutamos algumas pessoas dizerem que há fases da vida em que os dias parecem todos iguais, e esses últimos meses trouxeram essa sensação de maneira muito mais intensas. As luzes que indicam a aproximação com o Natal, que, na família, começam a ser ligadas em novembro, são um marco temporal curioso nesse quadro tão bagunçado.
Os elementos coloridos separados por grupos vão mudando o clima aos poucos. As bolinhas vermelhas e douradas são as primeiras a pousarem sobre as pontas do mesmo velho e guerreiro pinheiro de plástico, o mesmo que é montado há mais de 20 anos. Com elas, a sensação de que nenhum dos momentos passados foram em vão. Cada pequeno acontecimento trouxe aprendizado e somou no todo da experiência.
O festão metálico envolve tudo como os muitos abraços que não pudemos dar. Ele transmite a sensação de preenchimento do espaço, que foi deixado pela ausência de parentes e amigos em casa. Algumas estrelas lembram quantas vezes olhamos para o céu em busca de uma resposta para todas as angústias que sentimos.
Os sininhos recordam os lugares familiares que deixamos de frequentar, reforçam a falta que a rua faz. Os laços de fita representam as relações que foram reforçadas. Com as demandas que acumulamos e o distanciamento, foi exigido empenho para mantê-las, além de novas formas de celebrar o nó forte, sem deixar que ele se desfaça.
Aqui em casa, particularmente, entram os tsurus, que, na tradição oriental, estão muito relacionados aos nossos desejos de saúde, que foram vitais nesse período. Por último, os piscas: a luz que recorda que estamos vivos, despertos e, por isso, precisamos celebrar e agradecer.
Fiquei com um pouco de receio de que o Natal fosse deixar um gosto amargo de um ano considerado perdido. No geral, o fim de ano tem um recolhimento natural, uma sensação de fechamento de ciclo. Porém, percebo crescer ao meu redor uma expectativa boa. Um sentimento de virada, de renovação. Acredito que, mais do que nunca, estaremos muito mais próximos dos nossos núcleos mais íntimos nesse momento. É hora de buscar outros significados, outros símbolos.
Ainda não encontrei o elemento que ficará no topo da árvore de Natal aqui de casa, mas quero algum objeto que remeta a esperança, essa estranha mania de acreditar que muitas coisas boas possam vir a acontecer, mesmo que, no horizonte, só consigamos ver a incerteza passar. Pode ser que demore, mas pelo menos por alguns dias, a minha torcida é para que o clima de Natal consiga abrir a percepção para outros assuntos e ideias e gerar novos sentimentos.