O prazo para a regularização, transferência e para fazer o título de eleitor foi encerrado nesta semana. Há a percepção de um peso maior sobre os ombros dos jovens, principalmente nas últimas semanas. Há uma certa esperança de que eles possam atuar e fazer a diferença. Campanhas nas redes sociais incentivaram esse público a tomar uma postura mais ativa e a se expressar, entender que as decisões políticas afetam diretamente todos os campos da vida deles também e, por isso, é fundamental que eles se interessem em participar, já que o voto para indivíduos de 16 e 17 anos é facultativo.
Sempre penso em como essas conversas deveriam começar. O imperativo “você tem que fazer alguma coisa”, que vemos replicado como uma cobrança nos perfis verificados das redes sociais não colaria comigo quando tinha 16 anos. Havia a sensação de que eu não fazia parte das discussões importantes. Não via meus anseios, minhas angústias e minhas vontades representadas em nenhum espaço político naquela época. Por isso, sentia alguma dificuldade de me apropriar desse direito tão importante. É mais uma forte pressão sobre quem já tem um universo de dúvidas e incertezas consideráveis sobre tantos aspectos da vida.
Entretanto, acredito que esse papo não possa mesmo esperar. Há inúmeras formas de buscar um envolvimento da juventude com a política e a maioria delas passa pelos espaços de educação, inevitavelmente. Essa preparação e esse trabalho precisa ser perene e não estar focado apenas em uma eleição, por mais que esse momento seja muito importante. E há muitas iniciativas nesse sentido. Lembro-me de um projeto sobre cidadania que a escola em que estudei no ensino médio promoveu, um dos únicos espaços que se dedicou a tirar nossas dúvidas a respeito de como funcionam os espaços de decisão.
Mesmo assim, me parece pouco. Só depois de adulto eu entendi, realmente, quais são as funções e atribuições de cada ator político. Essas informações hoje estão ao alcance de todos facilmente pela internet. Apesar disso, nem sempre elas chegam como deveriam. Ainda há muitas dúvidas básicas que passam batidas.
O ponto de partida para aumentar o engajamento do público jovem é a escuta do que eles têm a dizer. Se suas ideias e sentimentos chegassem com mais frequência aos espaços de poder, muitas soluções para as nossas cidades poderiam ser elaboradas com a contribuição valiosa deles. Os jovens vivem os territórios da cidade e conhecem como ninguém os problemas e os desafios pelos quais a população passa todos os dias.
Essa força, essa criatividade e especialmente esse olhar novo para os problemas crônicos pode trazer benefícios significativos. Mas em que espaços os jovens podem expor livremente suas ideias a respeito do que vivenciam? Como fazer com que eles se sintam seguros e acolhidos para reivindicar suas necessidades? Onde eles podem encontrar as ferramentas para cobrar das lideranças eleitas as ações que elas prometeram? Quem ensina os caminhos sobre todas essas questões aos nossos adolescentes? As respostas para essas perguntas eu gostaria de ter recebido quando eu tinha 16 anos.
Votar é apenas uma parte de todo o processo. Precisamos que nossos jovens conheçam e possam interagir com as outras muitas partes também como cobrar, acompanhar, vigiar, fiscalizar. A participação deles não pode ficar restrita apenas a esse ponto.
Por outra via, não é possível diminuir o tamanho do desafio de incluir essa fatia do eleitorado na conversa. É complexo, difícil e trabalhoso, especialmente, pensando em um país do tamanho do Brasil e na diversidade de formas de ser jovem que temos. Porém, não será frutífero pressionar os jovens apenas nos momentos de decisão. Precisamos buscá-los e abrir espaços para que entendam e participem de todos os processos, como muitos adultos também deveriam fazer, mas abrem mão.