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Recado para Saturno

saturno
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A virada sempre trouxe para mim, em um primeiro momento, uma necessidade de recolhimento. O famoso fechar para balanço. Em seguida, vinha a vontade de festejar os aprendizados, as conquistas e celebrar a vida. Nesse ano, fui atropelado. Nenhum dos meus pequenos rituais foi executado. Não consegui comer a lentilha que há alguns anos faz parte do Réveillon. Não pensei na cor de roupa que eu gostaria de usar. Tudo isso foi feito no piloto automático, porque a vida cobrava outras ações.

Não me lembro da última vez que senti o tempo passar tão rápido. Contei nos dedos as vezes que estive com alguns dos meus bons amigos. Fui cobrado por familiares pela ausência em algumas ocasiões. Perdi as contas de quantas vezes apressei o passo para não chegar atrasado. Também fui rigoroso e não me permiti ‘perder tempo’, o que teve o seu custo também. Tem tempo, há tempo, vai dar tempo. Não deu. Ele escapuliu pelos dedos, pelo controle da agenda. Rebelde em me contrariar, me fez pequeno. Me tirou o sono várias vezes, zombou dos meus planejamentos. Eu que era muito acostumado a só dizer sim, fui obrigado a adotar o não, porque não ia dar tempo. Esse aprendizado também foi fundamental.

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Embora a mitologia sempre tenha me despertado interesse, Saturno, o deus impiedoso do tempo, que engolia seus próprios filhos para não ser superado, me causava uma certa distância. Agora, eu o encaro de frente. Não com o receio que tinha quando criança. Mas com respeito e cuidado. Certo de que não quero, também, ser engolido.

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O plano é lidar melhor com ele. Parar de entender o que eu faço por mim como tempo perdido. Entender que eu preciso respeitar o meu tempo. Me dar um tempo de vez em quando. Demorar quando precisar e me apressar menos. Por isso, caro Saturno, a palavra desse ano por aqui é: processo. Contínuo e consciente. Pode vir, mas me permita viver cada momento presente, inteiro.

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