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O que está por trás da greve dos caminhoneiros?

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Tentei escrever sobre outro tema, por achar que qualquer coisa que se diga agora sobre a paralisação dos caminhoneiros possa ser precipitada, mas o momento é tão crucial que deixar de falar sobre ele não me parece possível. Como jornalista, desde segunda-feira, eu e os colegas da redação da Tribuna estamos envolvidos na cobertura da greve e os reflexos dela para o país. Estive pessoalmente com os grevistas, na BR-040, e tive a oportunidade de ouvir muitas pessoas.

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A resposta que eu queria ter encontrado era sobre o que ou quem estava por trás de todo o movimento. Um partido político, as transportadoras, um sindicato, um candidato a presidência e muitas outras teorias da conspiração…

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Como a situação se modifica e se agrava a todo instante, ainda não consegui ligar todos os pontos desse quebra-cabeças, embora o interesse das transportadoras nessa causa seja absolutamente claro. Mas confesso que, mesmo sem compreender todas as peças que articularam esse mega protesto, fiquei muito emocionada ao ver que, pela primeira vez, o Governo Temer parou – ou foi parado -, para ouvir a voz das ruas e o quanto há de insatisfação entre os brasileiros.

Com todo o desmonte promovido por Brasília, à revelia de uma nação, nenhum protesto conseguiu falar a língua dos governantes. Precisou de a economia ser colocada em risco para que o presidente e seus ministros se dirigissem à nação que eles parecem desprezar.

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No começo da paralisação, o que mais se ouviu nas ruas foram palavras de apoio aos grevistas. Estamos todos fartos de sermos tratados apenas como peças no tabuleiro da política. Enojados de ver que o Brasil está desgovernando, à mercê da violência, do desemprego, de uma educação que não promove o ser humano, de atitudes que sinalizam para um verdadeiro retrocesso de ideias.

Estamos exaustos de trabalhar seis meses por ano apenas para pagar impostos que não são revertidos para o bem-estar da sociedade. E não estou falando só a nível federal, não. Olhe Juiz de Fora e a quantidade de buracos sem fim que se colocam diante do nosso caminho, diariamente. E o pedágio aviltante cobrado pela Concer para nos oferecer uma estrada remendada, interditada, incompleta, inadequada diante do que foi estabelecido em contrato. Um desrespeito total com quem faz a roda girar! A sensação que, nós, brasileiros, temos, é que estamos abandonados por uma gente que é paga para nos representar.

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Por isso, ver o país parado não me trás nenhum alívio, mas é um sinal de que ainda estamos vivos, resistindo, apesar dos múltiplos interesses por trás dos bloqueios. Infelizmente, não se pode ignorar que, no meio dos manifestantes, há os que levantaram a bandeira da volta da intervenção militar. O que é lamentável e suspeito.

Por outro lado, ouvi gente que acredita realmente em um movimento popular para sacudir Brasília. De tudo que escutei, o que mais me chamou atenção foi a fala de um motorista autônomo que há 30 anos roda as estradas. Em seu desabafo, ele disse que são eles, os caminhoneiros, que levam o Brasil nas costas. Dos R$ 1.500 que ganha por cada frete, metade é usada para pagar combustível, outra parte vai para o pedágio, restando quase nada para manutenção do veículo. Em seu bolso, ele diz que ficam menos de R$ 400.

Mais do que ninguém, eles sabem o quanto pesa a invisibilidade. Já, nós, estamos descobrindo agora.

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