Esta semana liguei para minha mãe e pedi, pela milionésima vez, a receita da nossa salada de Natal. Nossa, não, dela, que foi a “inventora” dessa delícia dos deuses.
– Esqueceu de novo, Dani, perguntou, dando uma gargalhada.
Ri também e justifiquei que como a gente só faz o prato uma vez por ano era fácil esquecer. Ela, então, começou a listar os ingredientes: frango defumado, abacaxi em calda, passas, creme de leite, azeitona…
– Mãe, a receita não leva azeitona!
– Não? Perguntou ela surpresa.
– Não. Você está inventando…
– Uai, mas pode levar. Aliás, a gente pode colocar o que quiser. Você está lembrando da cebola ralada?
– Mãe… também não leva cebola!
– Leva sim!
Enquanto ela falava, eu fiquei pensando por que eu amava tanto esse prato. Meu pensamento correu solto e, de repente, a memória me levou para o apartamento da Rua Halfeld, onde, pequena, eu enfeitava a árvore de Natal com minha mãe. Nunca esqueci das bolas que comprávamos nas Lojas Americanas. Pude até ouvir o som da voz da minha mãe avisando que era preciso tomar cuidado para manusear os enfeites, pois eles podiam quebrar. Naquela época, o comércio ainda não tinha sido invadido pelo plástico e pelas peças made in China. Por isso, as bolas de vidro eram caras e raras. Eram únicas.
Ainda vagando pelo pensamento, me lembrei do Natal na casa da minha tia Fina, lá na Rua Barão de Santa Helena, no apartamento cuja parede era toda decorada por uma fotografia de Jerusalém. Uma das cidades mais antigas do mundo, Jerusalém é o berço dos antepassados do meu tio Antônio e do meu pai José. Em volta da mesa farta, eu, meu irmão e meus primos celebrávamos a festa com cantoria e um trenzinho humano que engatávamos pela casa ampla com chão de taco. Deu saudade!
De lá, meu pensamento pousou na época em que eu e meu marido passamos a ser três. O nascimento do Diego deu um sabor novo à nossa comemoração cristã. No primeiro Natal com nosso filho, Diego ficou sentado embaixo do galho mais baixo do pinheiro e, ainda assim, não conseguia tocá-lo. Depois vieram outros encontros que agregaram novas pessoas em nossa casa.
Ao final dessa viagem no tempo, acabei descobrindo o motivo pelo qual a salada de Natal da minha mãe não pode faltar em nossos dezembros. É que ela tem gosto de família, de um tipo de felicidade que se recicla. Embora tudo mude, é bonito ver que a vida continua sendo escrita com amor e delicadezas.
Feliz Natal, meus amigos! Que a salada de vocês seja igualmente saborosa.