Durante muito tempo, nós, jornalistas, evitamos tratar nos jornais de matérias com enfoque no suicídio. Um dos motivos era a ideia de que a publicação de um caso levaria a novos eventos semelhantes. Mas esse silêncio, embasado em incertezas, não impediu que o autoextermínio se tornasse a segunda maior causa de mortes entre adolescentes no Brasil. Diante de uma epidemia que levou ao crescimento de 65% dos casos de autolesão entre meninos e meninas de 10 a 14 anos no país desde 2000, conforme dados do Mapa da Violência no Brasil, a gravidade dos episódios acabou, por si só, rompendo o silêncio.
Hoje, mais do que em qualquer outro momento, tenho a certeza de que precisamos falar sobre isso. O tabu em torno do autoextermínio só contribuiu para que os jovens que não experimentarão futuro achassem que o único caminho para a descrença do presente era colocar fim à vida. Além de investir na formação dos profissionais de saúde para detectar comportamentos de risco ou impedir o acesso a métodos letais, precisamos focar em discussões sobre o sentido da existência em uma sociedade seletiva e sem espaço para o outro. Mais do que isso: precisamos nos importar com a dor do outro, caso contrário continuaremos mergulhados em solidão coletiva.
Quando crianças e jovens não enxergam saída, nós, adultos, devemos nos perguntar qual a responsabilidade que temos na construção de um mundo sombrio no qual a infância e juventude não tenham vontade de permanecer? Se eles se matam, o fracasso é nosso. Fracassamos ao permitir que a vida seja vivida com superficialidade. Também quando nos transformamos em seres vazios de espiritualidade, de ética, de sentido para além do aqui e agora.
Tão brutal quanto abrir mão de si mesmo é ignorar as razões que nos levam a conviver, é esquecer o que nos torna humanos. Há tanto ódio disseminado no mundo atual que parece piegas falar em resgate da afetividade. Mas sem solidariedade, amabilidade e gentileza continuaremos paralisados, presos a nossos próprios dramas. Se importar com quem está ao nosso lado faz toda a diferença.
Proteger integralmente a infância e a juventude é proteger a nossas própria espécie, porque não há nada mais triste do que assistir, inerte, à morte da esperança.