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Quando o filho é dos outros, pouco importa

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Aos 15 anos, uma aluna do ensino médio de uma escola particular e tradicional da cidade fez um poema para apresentar na feira literária do colégio. Decidiu tratar sobre o feminicídio e a ameaça permanente de ser mulher em meio a uma sociedade machista e patriarcal. Antenada com as questões políticas, ela ainda cita Marielle e Frida Calo, como exemplos de pessoas que não se deixaram vencer pelo medo. Antes de recitar o seu poema, ela e um amigo fizeram uma apresentação musical na escadaria da instituição de ensino.

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Filmada por uma estudante, que debocha da performance da menina e ainda se refere a ela e ao número com um palavrão, o vídeo foi parar nas redes sociais, mais precisamente nas páginas que se autodenominam defensoras da família e de uma política de direita. O vídeo, então, foi compartilhado milhares de vezes por adultos que criminalizaram a livre expressão e o ato em defesa das mulheres dentro de uma feira literária da escola onde os próprios filhos estudam.

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Desde então, a aluna vem recebendo xingamentos, injúrias, depreciação. Pior: ela e o amigo estão sendo alvos de ódio. O curioso é que todo esse arsenal de maldades parte de pais que supostamente dizem zelar pelos seus filhos, mas que não tiveram a menor cerimônia em expor os filhos dos outros. Parte de famílias que pregam moral e respeito, mas que não pensam duas vezes em desrespeitar uma menina por seu pensamento crítico. De adultos que com seu exemplo de intolerância e dogmatismo ensinam os filhos a serem raivosos e grosseiros.

Não. Não se trata de defender a família. Trata-se de gente que, para defender suas próprias ideias, precisa desonrar a dos outros por ser incapaz de conviver com pensamentos diferentes. Tratam-se de pessoas que acreditam ser melhores que outras e que podem pisar em todas. Tratam-se de indivíduos bélicos, dispostos a exterminar qualquer um que passe em seu caminho, inclusive crianças e adolescentes.

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Feridos, os pais da aluna e do aluno expostos já procuraram o Ministério Público para tomar providências legais contra esse ataque desproporcional e gratuito. Sofrem por verem os filhos serem ridicularizados e sem nenhuma chance de defesa.

Dia desses, li uma frase em um livro de Chico Xavier que cabe bem dentro dessa história. “O ódio é comparável à hiena, espalhando terror e morte”. Sarcástico e inútil, o ódio só faz destruir o bom senso.

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