Em meio a uma roda de amigas, conversávamos sobre os (des) caminhos do Brasil e o conturbado cenário político, social e econômico no qual estamos mergulhados. Juntas, saboreávamos um delicioso bolo de churros – cada fatia deve ter umas mil calorias -, e a prosa girava em torno da vergonha que é assistir Brasília colocar fogo no país, desde que o império dos deputados e senadores permaneça intacto. E apesar do repúdio que tudo isso nos causa, contei para elas sobre a quantidade de iniciativas positivas que tenho visto de gente sem o poder de um mandato, mas que sabe exatamente como exercer sua cidadania de maneira produtiva e, melhor, em benefício da comunidade.
Minha vizinha, por exemplo, a jornalista Carla da Hora, tem feito uma transformação nos hábitos de quem convive com ela. Adepta da vida saudável, Carlinha começou a fazer compostagem em casa, ou seja, produção de adubo orgânico a partir do lixo doméstico. Dia desses, ela quebrou todo o cimento do quintal da residência dela para colocar em prática o sonho de fazer uma horta livre de agrotóxico ou defensivo agrícola. Queria algo do tipo: colha e coma. Para isso, tem usado os princípios da permacultura, que prega a sintonia com o meio ambiente a partir de ações sustentáveis. “Fazer a nossa parte é ótimo. Isso é o futuro”, me disse ela explicando os benefícios do reaproveitamento para a redução do lixo que produzimos.
Confesso que não sou daquelas pessoas que ficam descalças para “trocar” energia com a natureza, mas estou entre as que separam o lixo seco (plástico, papel, lata). O esforço da Carlinha, no entanto, me sensibilizou. A partir do comprometimento dela, passei a separar também o lixo orgânico produzido na minha casa. Inicialmente, eu estava apenas interessada na qualidade do adubo que ela ir me dar, mas, em pouco tempo, algo mudou dentro de mim. Comecei a juntar restos de cascas de frutas, folhas, legumes e hortaliças in natura, além do pó de café coado e grãos vencidos, como feijão, lentilha e arroz. Em apenas dois dias, enchi uma sacola e fui toda prosa entregar meu lixo.
E o que começou como um exercício simples de cuidado ganhou uma força avassaladora na minha casa. Dia desses, flagrei minha ajudante jogando fora a casca do abacaxi. Quase enfartei ao imaginar como alguém tinha coragem de desperdiçar um alimento tão rico. Aquele abacaxi era para a compostagem da vizinha, poxa! Só, então, me dei conta do quanto estava contagiada pela ação da jornalista, de como o compromisso dela com a sustentabilidade tinha mudado a minha forma de pensar e agir.
São exemplos como esses, capazes de nos inspirar, que merecem ser compartilhados e seguidos. Já o lixo produzido em Brasília não serve para a horta da Carlinha. Aliás não serve para nada!