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Abaixo a asfixia

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Meu filho Diego, de 5 anos, tem tiradas tão engraçadas que apelidei os “causos” dele de Dieguices, inspirada por um antigo blog chamado “Cartas para Francisco”. Dias desses, flagrei Diego observando através da janela da sala. Tinha os olhos fixos na rua.
– Mamãe, como vamos respirar se, na nossa rua, têm apenas duas árvores?
A “consciência” ambiental dele chamou minha atenção. Fiquei feliz em perceber, mais uma vez, que o ensino não é descolado da realidade na sua escola.

E foi por causa dessa conversa sobre ecologia que me dei conta do desinteresse de nossos parlamentares – os mesmos que hoje lotam o Congresso para decidir ou não pelo impeachment – em relação às questões ligadas ao meio ambiente. Recentemente, uma das sessões realizadas em Brasília para discutir desdobramentos da tragédia de Mariana ficou vazia. E o que dizer do silenciamento sobre Belo Monte, hidrelétrica que, segundo a jornalista Eliane Brum, representa a obra mais brutal da redemocratização do Brasil, responsável pelo desmatamento de ilhas do Xingu e pela expulsão do povo da terra? Belo Monte só tornou-se centro das atenções políticas quando sua construção foi citada em suposto esquema de propina na operação Lava-Jato.

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Analisando o tratamento dado pela Câmara dos Deputados às questões pungentes do país, vejo a movimentação política das últimas semanas como um imenso teatro do absurdo. Deputados fantasmas que só resolveram trabalhar às sextas-feiras, porque seus interesses pessoais estão em jogo, enquanto, nós, os brasileiros de verdade, suamos a camisa até mesmo em domingos e feriados para garantir à nossa família o pão de cada dia.

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Na última quarta-feira, o escárnio dessa gente engravatada atingiu o ponto máximo. Um grupo de parlamentares exibiu para imprensa, com orgulho, um bolão com lances a partir de R$ 100. A aposta é referente ao placar da votação desse domingo. Quem acertar, leva para casa a quantia somada, mais uma tremenda bola fora de quem faz do Brasil piada nacional.

Para o azar desses 518, não somos tão cegos quanto eles esperavam. Mas para que haja mudanças verdadeiras, temos que exercer nossa cidadania muito além do voto. Que a crise política que asfixia nosso país seja útil para a profunda renovação do conceito de homem público. Porque precisamos, mais do que nunca, respirar esperança.

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