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Gato por lebre

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Meu celular tocou no meio da tarde. Olhei no visor de chamadas e vi o DDD 21, embora eu desconhecesse aquele número. Do outro lado da linha, uma vendedora simpática me avisava que eu tinha sido escolhida “entre um grupo seleto ” – ela fez questão de frisar -, para receber um bônus de R$ 200 em uma loja de roupas do Rio com filial na cidade. É mesmo, perguntei, já desconfiada. Mas como mulher é bicho bobo, lá fui eu na loja ver para crer. Entrei na companhia do meu filho e me apresentei como a “cliente da promoção”. A funcionária me recebeu com um sorriso, dizendo que a coleção estava incrível e que eu iria aproveitar muito o meu bônus. Aí eu fiz a perguntinha básica:

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– Como funciona esse bônus? Vale para qualquer valor de compra?

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– Bem, balbuciou a moça já sem graça. É assim: o desconto vale para compras acima de R$ 800.

– Como?

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– Vale à pena, apressou-se em dizer. Se você comprar R$ 800, pagará R$ 600, explicou, tentando me convencer que eu faria um negócio da China.

O rosto dela, no entanto, enrubesceu. Senti até pena da moça que, certamente, era obrigada a seguir a política da loja e fazer cara de paisagem diante de tamanha propaganda enganosa. Nem me dei ao trabalho de brigar. Ela não tinha culpa. Agradeci e disse que não estava interessada em usufruir desse “benefício”.

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Quando saí da loja, Diego disparou:

– Ufa! Ainda bem que você não gastou seu dinheiro, mamãe.

Dei uma gargalhada. O pequeno tinha sido mais esperto do que eu.

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Depois dessa experiência, fiquei pensando no quanto somos cotidianamente ludibriados nas relações de consumo. Na hora de nos vender um plano qualquer, por exemplo, as operadoras prometem mundos e fundos. Insistem na vantagem do negócio, mas não demoramos a descobrir que a coisa não era tão boa assim. O pior é que, para cancelar o “negócio”, a gente pena. Tomamos um chá de canseira no telefone, quando, nessas horas, não encontramos ninguém para resolver nosso problema. Só nos é permitido falar com pessoas sem rosto. Ao final, somos constrangidos a dizer por que queremos desistir, como se fôssemos obrigados a dar satisfações sobre como e onde queremos colocar nosso dinheiro.

Acabei me lembrando de uma viagem a trabalho que fiz para o Rio Grande do Sul, onde comprei passagem de ônibus para me deslocar entre duas cidades. O horário da saída estava marcado para 12h45, mas já eram quase 14h, e o veículo não tinha dado as caras na plataforma. Voltei ao guichê solicitando a troca do bilhete para outro trecho. A mulher me disse que não poderia fazer isso, porque as passagens na rodoviária só poderiam ser trocadas meia hora antes do horário de saída dos carros.

– Como assim??????? O ônibus nem chegou aqui, respondi, indignada, depois de mais de uma hora de espera.

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– Sinto muito. É a política da casa!

– Então busque o código do consumidor e me mostre qual artigo ampara vocês, respondi, bastante irritada.

Depois de falar com a atendente, o gerente, o diretor do terminal e o diabo a quatro é que consegui, finalmente, trocar o bilhete.
Só no primeiro semestre deste ano, o Procon registrou em todo país mais de meio milhão de queixas referentes a cobranças indevidas de dívidas que o brasileiro não fez. Isso sem falar dos gatos por lebres que a gente leva para casa, diariamente, e de outros milhares de golpes aplicados em cima do nosso lombo.

Eu não sou do tempo em que bastava empenhar a palavra para fechar um negócio ou resolver uma pendência, mas sinto uma falta danada dessa gente!

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