A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos é uma zebra mundial. Diante de um planeta embasbacado pela vitória do radicalismo, a escolha do republicano reforça a onda conservadorista que atinge, como um tsunami, não só as Américas, mas todos os continentes. Com um discurso de intolerância, Trump conseguiu eco junto a quase 60 milhões de americanos que agem com indiferença aos direitos civis, apoiam a expulsão dos imigrantes ilegais, a opressão das mulheres, o armamento da sociedade e a tortura como método de interrogar suspeitos de crimes.
Patrícia Rossini, doutoranda da UFMG que trabalha com pesquisa em mídia e esfera pública, acompanhou todo o processo eleitoral americano e diz que, apesar da ressaca moral diante da escolha de um candidato machista, xenófobo e racista, a vitória de Trump legitima a guinada da extrema direita. “É um indicativo de que a maioria da população de classe média não valoriza ou não se sente afetada por políticas públicas de promoção de igualdade social e acesso a serviços básicos como, no caso americano, planos de saúde acessíveis, equidade salarial ou acesso ao ensino superior – o que, por sua vez, pode indicar que as esquerdas têm negligenciado o poder das classes médias consolidadas e falhado em dialogar com elas (grosso modo, o mesmo acontece no Brasil). Seja qual for a explicação, a vitória de Trump é estarrecedora e representa uma pá de cal nos avanços sociais dos últimos oito anos de Obama”, analisa.
Em um momento marcado por retrocessos e pela insatisfação generalizada com os caminhos da história, a escolha de um ogro como Trump confirma o quanto estamos distantes de um mundo conciliatório, com espaço para o coletivo e criação de oportunidades. Na cartilha do novo presidente dos Estados Unidos, rezada por milhões de seguidores americanos ou não, seres humanos são apenas máquinas de uma engrenagem que segrega e descarta os considerados indesejáveis.
Se morasse abaixo da linha do equador, Trump reeditaria o trem de louco e despachava os considerados inimigos do seu plano de poder, incluindo os jornalistas do Washington Post, para o Colônia, em Barbacena, ou quem sabe para um lugar ainda mais longe. A coisa aqui pode até estar feia, mas lá na Terra do Tio Sam vai ficar muito pior.