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O jornalismo morreu?

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Em 2014, na disputa do Prêmio Jabuti, conheci pessoalmente Laurentino Gomes, o autor dos best-sellers 1808, 1822 e 1889, que juntos venderam quase dois milhões de exemplares. Eu, uma estreante no meio literário, enfrentaria o veterano e competentíssimo escritor na disputa da categoria livro-reportagem. Claro que não teria chance de abocanhar o primeiro lugar, mas já me emocionava por estar ao lado do jornalista paranaense que, para mim, revelou-se um grande ser humano. Humilde, ele confidenciou que teve medo de perder para Holocausto brasileiro, um sentimento que só os grandes, como ele, são capazes de experimentar, porque os melhores sempre se colocam na condição de aprendizes.

Por causa desse episódio, convidei Laurentino para prefaciar o Cova 312, meu segundo livro. E usei um argumento irrefutável: “Perdi o primeiro lugar para você, então sua responsabilidade é grande comigo.” Ele divertiu-se diante da brincadeira e mostrou-se feliz por poder contribuir com a História do Brasil e por que não dizer do jornalismo investigativo? Quando o texto dele chegou, fiquei surpresa. Laurentino discutia o jornalismo na sua essência. “Nos últimos anos, poucas atividades humanas tiveram a sua morte anunciada de forma tão enfática e frequente quanto o Jornalismo”, escreveu, na tentativa de aniquilar os mitos sobre o futuro da profissão.

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Na semana em que se comemorou o Dia do Jornalista, me lembrei das palavras dele profundamente atuais, principalmente em tempos de crise aguda de credibilidade da imprensa, quando jornais e revistas tradicionais que, no passado, fizeram história, correm o risco de, no futuro, terem que se explicar por não documentarem a sua época com isenção. É Eliane Brum, uma das maiores jornalistas brasileiras, quem explica: “A crise política atual mostra também o quanto é frágil uma democracia sem uma imprensa forte e responsável, consciente do seu papel histórico de documentar a sua época com honestidade.”

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Apesar da fragilidade e superficialidade das narrativas e também seus imensos equívocos – que colocam em xeque a hegemonia dos grandes veículos -, sou daquelas que acreditam que ainda há o que se comemorar. Porque em meio a toda manipulação, muitos são os resistentes, gente que a despeito de tudo e de todos faz do rigor jornalístico uma bandeira inegociável, como Eliane Brum, Mauri König, Adriana Carranca, Cláudia Collucci, Leonêncio Nossa, Fabiana Moraes, Letícia Duarte, entre muitos outros.

Por isso, o Dia do Jornalista não pode ser de luto. Para comemorá-lo, convido Laurentino Gomes e brindo com ele ao prefácio que escreveu para o meu livro na defesa do jornalismo de qualidade como ferramenta essencial ao bom funcionamento da sociedade. “O jornalismo está mais vivo do que nunca esteve.” Tim-tim.

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