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O dia em que minha mãe quase morreu

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O Ano Novo não tinha nem 24 horas de nascimento, quando minha mãe sentiu-se mal. Eu, que achava que ela estava com dengue, fui encontrá-la na emergência de um hospital da cidade prostrada em uma maca. Não gostei do que vi. Os olhos dela estavam vermelhos, a força esvaía-se. Após os exames de praxe, fui surpreendida com a notícia de que ela seria levada para o Unidade de Tratamento Intensivo, em função de uma septicemia. Na hora, ela disse que não “queria ir para a UTI, pois tomaria o remédio em casa”. Parecia uma menina rebelde que não entendia a gravidade da situação que estava vivendo. Abraçadas, eu disse a ela que precisava ir. Perguntei até onde poderia seguir ao lado dela, mas a médica respondeu que deveria levá-la sozinha.

Vê-la sair de perto de mim naquela condição de vulnerabilidade me fez pensar na possibilidade de morte. E, pela primeira vez, senti medo. Não medo da morte, pois na minha crença – sou espírita desde menina -, a vida continua com o fim do corpo físico. O meu receio foi de não ter feito a ela todo bem que eu podia. Os momentos de dor nos permitem fazer reflexões profundas. E, nesse filme da vida que passa em nossa cabeça quando se está diante do capítulo da morte, a gente enxerga coisas que antes não conseguia perceber.

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Revisitar o passado com os olhos de hoje é revelador. A gente percebe que a correria do cotidiano mata pequenas coisas que são importantes. Sempre nos falta tempo para um telefonema, para um simples café ao lado de quem a gente ama, para ouvir com paciência as mesmas notícias de novo e de novo. A gente adia tudo e ainda arruma justificativas: muito trabalho, filho pequeno, cansaço… Quando um problema se torna realmente grande, é que a gente entende que deu importância demais ao que sempre foi pequeno.

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O tempo tem me ensinado que não devemos nos preocupar tanto com o que fazem por nós e sim com que o fazemos pelo outro. O importante é compartilhar o que temos de melhor. O que a gente recebe de volta tem relação direta com o que fazemos ou fizemos. Por isso, eu acho, sinceramente, que quem acumula mágoa tem o coração mergulhado em tempestade. Pode parecer clichê, mas eu quero a paz dos dias tranquilos.

Voltando à minha mãe, eu me senti culpada por culpá-la por ela trabalhar demais em seu restaurante e por a gente nunca ter tempo juntas, principalmente aos domingos, o dia mais agitado da semana para quem é do setor de alimentação. Culpada por nós duas estarmos ausentes do cotidiano da outra, sempre ocupadas. Mas me senti culpada, sobretudo, por não ser ainda a filha que eu deveria. Nos meus propósitos para 2016, eu já havia incluído o item “me doar mais”. E a chance de colocar isso em prática veio mais rápido do que eu pensava.

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Os momentos seguintes à UTI foram duros. Vi minha mãe piorar e também repassar sua vida a limpo. Conquistas, lutas, erros, acertos. O perigo da vida é que a gente se distrai, perdendo oportunidades valiosas. No nosso caso, ganhamos uma nova chance. Com a infecção debelada, minha mãe foi para o quarto e ainda pediu para passar batom. Nessa hora, tive a certeza de que ela estava realmente melhor. No dia em que minha mãe quase morreu, eu compreendi que o amor é um sentimento poderoso, porque é transformador.

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