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O que eu tenho a ver com isso?

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Nós, brasileiros, não precisamos ler nenhuma pesquisa de opinião para saber que somos um povo que não sente orgulho pelo seu país. Também não é necessário buscar muitas explicações sobre a descrença generalizada que se abateu sobre a nação verde-amarela, perplexa diante de recorrentes “novos” escândalos, embora sejam todos eles monotemáticos: a corrupção. O assalto aos cofres públicos e a desfaçatez de políticos que deveriam nos representar, – porém estão mais preocupados em se beneficiar -, nos transformou em uma multidão de indignados. Dulce Critelli, titular do Departamento de Filosofia da PUC de São Paulo, diz que a desconfiança reinante no Brasil é a representação concreta da ideia de que é preciso se defender não só dos outros, mas também de nossos governantes. Seria cômico se não fosse verdadeiramente trágico.

No ano passado, um estudo  realizado pela consultoria BrandAnalytics no ex-país do futebol – já que não estamos mais com essa bola toda -, confirmou que 50% dos entrevistados usaram a palavra “desonesto” para descrever a personalidade nacional. Outros 17% apontaram o Japão como seu país preferido, embora eu tenha a certeza de que a maioria nunca esteve lá para saber se um lugar estrangeiro é melhor do que o seu próprio ninho.

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Voltando à corrupção, temos, sim, motivos de sobra para estar desencantados. Mas o que me espanta é que a nossa indignação se volta apenas para os grandes golpes que assolam o Brasil. Há um silenciamento quase absoluto para a desonestidade praticada, diariamente, por gente como a gente, sem colarinho branco, que sempre encontra uma forma de levar vantagem. No país do “jeitinho”, embolsar o troco a mais que o funcionário desatento entrega não é visto como um deslize condenável. O desrespeito à fila do banco, do ônibus, do show, do cinema, é outro sinal de comportamento pouco ético, mas quem se importa? Avançar o sinal, atravessar fora da faixa, jogar lixo no chão ou pela janela do carro também são práticas comuns de quem não se interessa pela coletividade. Isso sem falar nos pequenos subornos e nas “carteiradas” que pessoas que se acham acima das outras praticam debaixo do nosso nariz. O motorista que deseja pagar “um café” ao policial para se ver livre da multa é o mesmo que atropela uma criança e foge sem prestar socorro.

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Combater o desmando generalizado que toma conta do Brasil é realmente urgente, mas, se quisermos ter um país melhor, não podemos esquecer que é fundamental fazer a nossa parte. Por que o catador de material reciclável que devolve a carteira com dinheiro é notícia em todos os jornais? Porque a honestidade é vista como virtude e não como uma obrigação de todos e de qualquer um. Enquanto ser honesto for exceção e não regra por aqui, nós continuaremos mergulhados em uma crise não só política e econômica, mas de valores. A permanente “sensação de impotência” nos desincumbe de agir. É preciso combater a ideia equivocada de que não temos nada a ver com isso. Temos, sim.

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