Diva Guimarães, a professora negra que roubou a cena na Flip 2017 ao falar sobre o racismo no Brasil, não me impressionou apenas pela brasileira que ela é. No depoimento dela, que levou o ator Lázaro Ramos às lágrimas, um agradecimento me marcou profundamente. Ela atribui à figura da mãe todas as suas conquistas, inclusive a influência que ela teve para que Diva fizesse da educação sua maior aliada na mudança de uma realidade de privações e na busca pela mobilidade social.
O que Diva compreendeu através de sua própria experiência vem sendo confirmado por diversas pesquisas sobre o tema ao redor do mundo. A mais recente, coordenada pelo IBGE no Brasil, aponta não só que a mãe é importante no desenvolvimento da criança – o que seria o óbvio -, mas que ela é primordial no sucesso do aluno, ou seja, tem grande impacto em seu desempenho escolar. O estudo mostrou que filhos cujas mães têm o mínimo de quatro anos de estudo formal possuem, pelo menos, três vezes melhor desempenho escolar do que aqueles cujas mães nunca estudaram.
Em um mundo no qual a oferta de tecnologia é tão alardeada como fator de sucesso escolar, o caminho do interesse da criança passa longe dos computadores. Mas por que a mãe tem tanta influência na vida escolar da criança? Segundo o PNAD, é porque ela nunca dedica menos de 30% do seu tempo à família, mesmo as mulheres que trabalham. De acordo com o consultor de políticas públicas Rudá Ricci, se ela conhece os colegas do filho, pergunta sempre para ele o que deseja ser quando crescer, cria um canal de ligação entre a vida afetiva dessa criança, a escola e o futuro. Se a parceria desta mulher é fundamental para o rendimento do aluno, também é justo que a escola dedique um tempo maior para essa mãe. “É preciso cuidar de quem cuida”, avalia Rudá cujo projeto, implantado em 50 escolas públicas de Contagem, Minas Gerais, acabou sendo premiado pela Unesco como a experiência educacional mais exitosa do Brasil no ano passado. Rudá criou uma rede de apoio tendo como foco justamente a família.
Foi através de visitas técnicas realizadas junto a três mil famílias que os professores do projeto conseguiram diminuir em 90% a evasão escolar e a violência, além de melhorar em mais de 60% as notas médias dos estudantes. Sem fórmulas milagrosas, diga-se de passagem, mas investindo no be-a-bá. “Se a escola ignora os problemas afetivos graves dentro da família, as duas fracassam”, afirmou Rudá. Simples assim.