Apesar de vivermos em um Brasil que não se entende, completamente esfacelado política e socialmente, todos nós concordamos em uma coisa: queremos, mais do que tudo, que nossos filhos cresçam felizes. A felicidade deles é, afinal, a nossa meta de vida. Como é bom ver um filho sorrir ou ter um desejo realizado. Isso, de fato, nos completa.
A questão é o caminho que nós, adultos, estamos trilhando para proporcionar aos nossos toda essa satisfação. Na prática, nos esforçamos para que eles tenham zero frustração. Só que zero frustração é igual a pouco ou nenhum crescimento. O que me incomoda é o tamanho do esforço que temos feito para que eles possam ter tudo. A melhor escola, o melhor brinquedo, a melhor roupa, o maior conforto, o melhor passeio, as melhores férias.
Lá em casa, toda vez que anunciamos uma viagem, Diego me pergunta: “É de avião, mamãe?” Aos 7 anos, ele já embarcou em aeroportos mais vezes que muitos marmanjos que trabalham uma vida inteira e ainda não tiveram a oportunidade de decolar. Proporcionar esses momentos para quem amamos é mágico, sim, mas estamos criando padrões de vida tão altos para nossos filhos que não sabemos se conseguiremos mantê-los lá na frente e, sinceramente, nem sei se deveríamos manter.
Não gosto de ser saudosista, mas me lembro bem da alegria que sentíamos quando, na infância, passávamos o dia inventando brincadeiras, fazendo pique pega ou juntando moedinhas para comprar chup-chup. Lanchar no segundo andar das lojas Americanas de vez em quando era o acontecimento do ano. Tomar um sundae, então, a felicidade suprema.
Hoje, nossos meninos vão ao Mc Donald’s como quem muda de roupa. Trocam comida pelos brinquedos do Mc Lanche Feliz que acabam, dias depois, na lixeira ou esquecidos em uma gaveta. Não precisam esperar o Dia das Crianças ou o Natal para ter a tão sonhada bicicleta ou o carro elétrico que, tempos depois, acaba encostado na garagem de casa a espera da próxima novidade.
Passamos tanto tempo ocupados, trabalhando, para oferecer tudo aos nossos filhos, que sobra pouco tempo para o que realmente importa: estarmos com eles. Por isso, quase sempre, atendemos a todos os caprichos deles e contribuímos para o que se convencionou chamar de síndrome do imperador.
O psicoterapeuta Leo Fraiman explica que a síndrome está presente em crianças solitárias afetivamente e que são compensadas pela ausência dos pais com tantas coisas materiais que suas querências se tornam o centro do universo, sendo os adultos os súditos que irão satisfazer todas as suas exigências.
O termo é pesado, mas filhos tiranos são resultado de pais omissos ou que se sentem na obrigação de fazer o filho feliz a qualquer custo. São pais que não aceitam que a professora dê uma nota baixa ao filho, ou que sentem pena da criança que precisa enfrentar uma fila para comprar um lanche ou que procuram facilitar tudo para ela, pois não deve se frustrar.
Infelizmente, o mundo está cheio de pequenos tiranos, porque, nós, os pais, não deixamos nossos filhos crescerem. Quando privarmos a criança de qualquer tipo de dificuldade ou sofrimento em nome de uma satisfação permanente estamos fazendo tudo para que elas tornem pessoas infelizes e intolerantes.