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Senhor valentão, me diga o que eu fiz?

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Vi Leondre pela primeira vez em um vídeo antigo que encontrei na internet. Junto de seu amigo Charlie, o menino de 13 anos que se tornou vítima de bullying nos primeiros anos do ensino fundamental resolveu expressar sua dor através da música. Montou com Charlie, 15 anos, o grupo “Bars a Melody” com o desejo de dar um recado ao mundo em forma de rap. Filho de uma personal trainer e de um pedreiro, o pequeno britânico desejava impressionar o público de um famoso show de calouros com sua performance, mas, ao expor seu drama, ele demonstrou bem mais do que o talento para compor. Mostrou-se por inteiro, revelando o tamanho da devastação causada por uma perseguição gratuita de colegas que o agrediam física e psicologicamente de maneira repetitiva.

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No mesmo instante, pensei no adolescente de Goiânia que feriu e matou seus colegas de classe sob a mesma alegação que o menino Leondre, embora pouco se saiba realmente sobre o ocorrido. Mas, ao contrário do garoto brasileiro, Leondre teve a coragem de pedir ajuda, depois de entrar em um quadro profundo de depressão, demonstrando medo de voltar à escola. Expressou o tamanho da sua dor em forma de letra de música, recusando-se a silenciar. Usou a arte como arma para tocar no assunto que tanto o fez sofrer. Encontrou o apoio incondicional de sua mãe que conseguiu mostrar para o filho que ele não estava só como pensava. Acolhido, ele transformou sua indignação em ação. Recebido em uma nova escola, da qual sentiu-se parte pela primeira vez, Leondre ganhou confiança em si mesmo, fazendo de sua capacidade de criar o antídoto contra o sentimento de solidão e revolta no qual se viu mergulhado:

“Se liga aí… Por favor, Deus, me ajude, eu me sinto tão só. Sou apenas uma criança. Como lidar com isso sozinho? Eu derramei tantas lágrimas escrevendo essa canção.. Tentando me encaixar, descobrir de onde pertenço. Eu acordo todos os dias sem querer sair de casa. Minha mãe me pergunta por que eu estou sempre sozinho? Assustado demais para dizer, assustado demais para lutar. Eu vou para a escola com suor do nervosismo no pescoço. Eu sou apenas uma criança e não quero o estresse. (…) Os apelidos que me colocam machucam demais. Eu queria contar para a mamãe, mas ela está com problemas com meu pai. Me sinto encurralado, não há como voltar.Vou para a escola querendo aprender e não brigar… Então, senhor valentão, me diga o que é que eu fiz? Ouça essa música e use-a. (…) Por que você me zoa todos os dias? (…) Você se sente o melhor quando me põe pra baixo, me bate, humilha, me joga no chão. E quando eu te pergunto, o que foi que eu fiz, me bate de novo e zoa a minha mãe. Mas eu estou esperançoso para o dia de hoje, ouça essa música e a use, deixe ela te conduzir. Aí senhor valentão, me ajude, por favor, me aceite, pois minha mente não consegue decifrar o que fiz para você. Sei que não é fácil, apenas tente. E seja esperançoso, porque eu sou”, diz a letra de Leondre.

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Ouvir Leondre e seu apelo pelo fim de comportamentos violentos e antissociais, me fez lembrar das reflexões do sociólogo polonês Zygmunt Bauman sobre a vida em tempos de secreta angústia. Com o amor sendo mais falado do que vivido, é urgente nos desvencilharmos das armadilhas de um mundo que valoriza o pior em nós.

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