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Eles vão mudar o mundo

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Essa semana vivi uma experiência especial. Reencontrei meu professor do cursinho durante uma palestra que fiz em uma escola privada de Juiz de Fora. Eu tinha 16 anos, quando conheci Edmundo de Paula Gomes Júnior, o professor que me fez olhar para a história da forma que nunca tinha enxergado. Éramos uns 60 alunos na turma, integrada também pelo meu irmão Sandro, o mais velho lá de casa. Na aula de Edmundo, ninguém ousava zoar. E não é porque ele fosse chato ou rigoroso, mas porque gostava tanto do que fazia que nos contagiava com o seu talento para ensinar. Foi como se um mundo novo tivesse se descortinado diante de meus olhos. Embora não soubesse ainda, naquela época nascia em mim a vontade de descobrir coisas que os livros não mostravam, de conhecer o Brasil e o mundo revelados por Edmundo.

Fiquei tão encantada pelo conteúdo da matéria que passei a anotar tudo que ele falava em sala. Meus cadernos ficaram famosos entre os colegas do cursinho que disputavam “a tapa” a chance de xerocar aqueles resumos para a realização da prova aberta do vestibular. No meu caso, disputaria uma vaga no curso de Comunicação Social da UFJF. E foi exatamente a disciplina de Edmundo que me catapultou no concurso. A prova dissertativa, que praticamente fechei, me deu a nota máxima em história entre todos os candidatos de Humanas. Isso me colocou dentro da Faculdade de Jornalismo, um sonho que, aos 17 anos, eu começava a construir.

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O tempo passou, mas o carinho por Edmundo permaneceu presente décadas afora. Quase 30 anos depois, revi meu professor da adolescência justamente na sala de aula. Desta vez, ele seria meu “aluno”. Com os cabelos brancos e o sorriso de sempre, Edmundo me deu um abraço caloroso. Sentou na última fileira de carteiras, e, eu, claro, o “convoquei” para a primeira, afinal, assistia as aulas dele no gargarejo. Além dele, havia outros professores e quase cem adolescentes no debate que realizaríamos.

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Fiquei muito emocionada ao perceber que os estudantes foram tocados pela história do nosso holocausto, reagindo com interesse de quem desejava muito conhecer temas que os livros didáticos jamais narraram. De repente, me enxerguei nos olhos daqueles meninos. Me lembrei de como eu era, na idade deles, quando aluna de Edmundo, e senti uma esperança imensa no futuro. Se a geração atual é marcada pela instantaneidade, com o desejo de dar a volta ao mundo em um minuto, ela também é extremamente aberta para o exercício da solidariedade, basta que nós, adultos, os ajudemos a despertar.

Muitos meninas e meninos ficaram engasgados ao conhecer uma gente cuja vida foi marcada pelo anonimato e pela segregação. Ao final, eles não queriam ir embora. Nem eu. Se, de alguma forma, toquei aqueles corações, foi porque alguém lá atrás fez isso comigo. Edmundo faz parte desses alguéns capazes de lançar boas sementes. Um bom plantio, muda o mundo. E aqueles meninos, certamente, poderão ajudar nisso.

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