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Mergulhados no silêncio

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O Brasil não é um, mas vários. No território de mais de oito milhões de metros quadrados existem tantos Brasis que eles parecem fazer parte de países diferentes, desconhecidos entre sua própria gente. Apesar de brasileiros, muitos filhos deste solo vivem como estrangeiros em seu território. Sem visibilidade, eles lutam para sobreviver ao esquecimento a que estão relegados desde o nascimento.

Para os povos da floresta que habitam o Brasil desconhecido, o contato com o mundo de cá era feito através da escuta, mais precisamente pelas ondas sonoras da Rádio Nacional Amazônica. Há 40 anos, era a Nacional que integrava a Amazônia ao resto do Brasil. A rádio era o único meio de comunicação para milhões de pessoas que habitam a Amazônia Legal e o Nordeste, gente cujo protagonismo não é reconhecido pela mídia tradicional.
Mergulhada em silêncio desde março, no entanto, por causa de um incêndio na subestação de energia, a Rádio Nacional da Amazônia, uma das emissoras que compõem a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), continua fora do ar desde então. Milhares de radinhos a pilha no interior das florestas, nas comunidades ribeirinhas e nas cidades onde a energia elétrica não chegou estão calados, impondo ainda mais isolamento ao Brasil profundo, que insiste em existir apesar de ser ignorado.

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Com a rádio fora do ar, o povo da floresta não tem como saber que uma menina do Amapá, de apenas 11 anos, tornou-se a mais nova vítima de escalpelamento provocado por acidente com barcos na região, boa parte deles ocorridos em transportes escolares. Ao tentar resgatar uma moeda de R$ 0,50, que caiu próxima ao eixo do motor de um barco-escola, a estudante Ingrid teve arrancado todo o couro cabeludo.
Filhos de uma Amazônia permanentemente ameaçada, essa gente também está sob risco. Ao serem privados do direito básico à informação, eles têm a sua vulnerabilidade acentuada. O fato é que o silêncio da Rádio Nacional está emudecendo ainda mais o Brasil. A quem interessa a desinformação?

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