A internet parece estar sempre um passo à frente dos pais. Esta semana, fui surpreendida no grupo de mães da escola com a informação de que uma boneca, conhecida como Momo, tinha viralizado nas redes sociais ao propor, por WhatsApp, desafios tão assustadores quanto a forma da personagem que foi copiada de uma escultura de mulher pássaro pertencente ao museu Vanilla Gallery, no distrito de Ginza, em Tóquio.
Na mensagem enviada por uma amiga havia a notícia de que a morte de um menino de 9 anos, Arthur Luís Barros, poderia estar associada a Momo. Filho de uma professora de Recife, o garoto foi encontrado enforcado no quintal de casa supostamente após ter aderido ao “desafio” da boneca que propõe resistência ao ato de sufocamento: ganha quem aguentar ficar sem ar por mais tempo. Impactada, chamei Diego para conversar. Mostrei a foto para ele que, na hora, a reconheceu:
– Mamãe, essa é a Momo! O que ela está fazendo no seu celular?
Naquele momento, fiquei assustada de verdade. Como um menino de 7 anos, acompanhado em casa por mim e meu marido e sem acesso livre ao celular, conhecia essa “boneca”? Imediatamente, desliguei a TV e chamei Diego para uma conversa franca. Ele me contou que tinha visto a Momo no YouTube, nos canais que assiste aos finais de semana. Depois de um longo diálogo, Diego começou a chorar, porque não tinha (e ainda não tem) a menor noção do risco dessa “brincadeira”.
Decidi, então, pesquisar mais sobre a Momo, e descobri, entre outras coisas, que criminosos vêm usando a “boneca” para roubar dados pessoais através de perfis falsos. Mais tarde, as informações são usadas para extorquir pessoas. Além disso, como a mente humana pode ser doentia, há os que se aproveitam da curiosidade de crianças e jovens para estabelecer desafios que podem resultar em morte, automutilação e medo. Preocupadas, várias redes de escolas pelo país emitiram comunicados aos pais sobre a armadilha virtual, com recomendações para que fiquem cada vez mais próximos de seus filhos, ressaltando a importância da orientação e vigilância pelas famílias.
Esse episódio me fez pensar que estar perto dos filhos nem sempre é suficiente. É necessário estar junto para que, quando eles estiverem longe de nós, tenham segurança suficiente para discernir sobre o que, de fato, é realmente bom para eles. Sei que de nada adianta mantê-los em bolhas que, como as feitas com sabão, se desfazem em contato com o ar. No entanto, prepará-los para a vida exige que nós, pais, também nos preparemos melhor para lidar com as questões da contemporaneidade. O mundo está cheio de ciladas para os nossos filhos. O meu, por exemplo, não sonha em ser bombeiro, médico, jornalista, comerciante, ator. Diego quer ser youtuber! Está seduzido pelos milhares de likes recebidos por jovens que criaram canais bem-sucedidos na internet.
Me preocupa a ilusão da fama em um passe de mágica ou que o trabalho seja visto como algo sem valor para as novas gerações que sonham em ganhar o mundo sem esforço, usando apenas a ponta dos dedos.