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Não se esqueça dos clips

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Semana passada, um adolescente de 14 anos fez um comentário sobre seu pai durante o trabalho psicopedagógico. Diante do valor de suas palavras e de tanta sabedoria, pedi que registrasse a experiência a fim de manter a pureza da manifestação. Ele permitiu a divulgação:

“Tinha prova de recuperação naquele dia e estava muito preocupado e ansioso. Quando olhei no celular, vi que havia recebido uma mensagem do meu pai. Nessa hora pensei: “é bronca” e demorei a visualizar, porque estava com medo. Mas criei coragem e visualizei. Foi aí que vi que não era bronca e sim ele dizia que confiava em mim, na minha capacidade, que sabia que podia ir bem na prova e que estava do meu lado para o que der e vier; depois falou que me amava. Essas palavras criaram quase que uma obrigação em mim de não decepcioná-lo e me deu esperança, responsabilidade e força na minha capacidade… eu fui bem na prova.”

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Quando falamos de educação referimo-nos a algo atemporal e de interesse geral, afinal, todos somos docentes ou assumimos, em alguns momentos, essa função. Conta, sempre, com a figura de quem ensina e outra de quem aprende, formando um par educativo, unidos, tal qual clips, para um determinado fim.

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Os pares educativos formados durante a infância são referências do mundo para a criança. Ela precisa estar sempre acompanhada por um adulto, já que carece de conhecimentos e defesas. Seu mecanismo mental é surpreendente: observa tudo e retém na memória todos os elementos captados sem critério algum. Depois a imaginação usa essas imagens, colocando-as em ação nas brincadeiras. A faculdade de imaginar tem a função de proteger dos rigores da realidade. A criança é receptora e expectadora passiva de todos os estímulos, sensações, emoções, palavras que recebe/observa. Poderíamos considerá-la como um baú que vai armazenando em seu interior todo o conteúdo externo sem seleção.

Na adolescência, surgem os primeiros ensaios da razão, da reflexão, do pensar… As faculdades da inteligência iniciam a sua magnífica engrenagem. Agora não contam mais com a presença dos maiores para resolver as questões que se apresentam frente a seus olhos e é ai que lançam mão dos elementos que foram colocados ao longo da infância, dentro desse baú. Lamentavelmente muitos se deparam com tantas mentiras, tantos enganos, tantas promessas ocas…E o comportamento assume contornos de rebeldia … E se vê perdido, inseguro. Porém, felizmente, muitos outros, encontram em suas reservas morais (baú) muito alento, exemplos, verdades, palavras de incentivo e inspiração para seguir destinos retos com perspectivas de sucesso e felicidade .

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É possível dimensionar a responsabilidade do docente para a formação do caráter, que é a fisiomia da alma.

Educar para a vida é considerar a qualidade desse par , incluindo um elemento a mais, indispensável a sua formação : o afeto. Afeto é o elemento fixador das relações, elemento, esse, que imprimi tolerância compreensiva e generosidade recíproca.

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O par educativo/afetivo se constitui a partir de uma relação face a face, de verdadeiro convívio, fazendo nascer sadios e responsáveis modelos, exemplos, referências . As palavras seguem ecoando no interno dos demais, levamos ensinamento e servindo de defesa , principalmente quando são coerentes, ou seja, da mesma natureza que os pensamentos e ações .

Recordo, com emoção de gratidão, das vezes em que freiei atitudes juvenis por lembrar do ambiente familiar e não querer decepcionar meu pai. Eu não tinha consciência clara acerca do certo e errado, mas a consciência de meu pai estava em mim , “carimbada” na forma de sentimento ( no meu baú), me fazendo escolher o melhor caminho. O afeto estava presente ali, no exemplo formativo, regado de amor, impresso em mim.

O meu comportamento ético diante da vida esteve diretamente vinculado ao conteúdo moral dado na infância .

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Educar para a vida é trabalhar para unir essas porções de vida , tal qual clips, capaz de reunir, conservar, dar suporte, proteger, selecionar , fixando o melhor em termos de ambiente, aspirações, propósitos, feitos, estímulos naturais e positivos e tempo dedicado ao outro .

Para que esse trabalho cumpra a elevada função a que foi destinado, precisa ser fixado com a parte de amor consciente que é o afeto, já que é ele quem dá cumprimento e perenidade a qualquer obra. Assim, a esse clips precisamos anexar um grande laço de fita, representando o sentimento que acalenta toda a ação educativa de valor.

“…As palavras de incentivo do meu pai criaram uma obrigação de fazer o melhor possível na prova, mas isso não foi imposto por ele, eu é que senti um estímulo e uma obrigação de fazer o melhor”, completou aquele adolescente.

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O clips é um símbolo, para a recordação.

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