Há décadas, enfrentamos os mesmos problemas: desnutrição, falta de acesso à água, mudanças climáticas, poluição, desmatamento. Não há doações filantrópicas o bastante e os governos e as organizações da sociedade civil tradicional tampouco estão preparados para resolver desafios persistentes como estes.
Estima-se que, nos próximos anos, haverá um grande aumento da população mundial, apesar de uma queda geral no número de nascimentos. Seremos em torno de 9,8 bilhões de pessoas no mundo, segundo o relatório da ONU. Ou seja, os problemas sociais e ambientais aumentarão proporcionalmente. Precisamos encontrar, urgentemente, soluções em escala, criativas e que rompam os padrões precedentes.
Mas, como estruturar o caminho para se tornar uma sociedade livre de problemas sociais? Como alinhar propósitos, conciliar culturas, capacidade de investimento e estruturas existentes à crescente demanda por soluções para problemas socioambientais? Não existem respostas fáceis para perguntas tão complexas, mas uma mentalidade empreendedora e inovadora é o primeiro passo para prosperarmos. A adoção de tecnologias e novos modelos de negócios, aliada à determinação pela busca de soluções inovadoras, pode de fato nos ajudar a reduzir esses problemas.
Ao falar de inovação e novos modelos de negócios, lembramos automaticamente dos empreendedores e das organizações empresariais, correto? Imaginem se as organizações começassem a criar modelos de negócios economicamente lucrativos e que, ao mesmo tempo, gerassem impacto positivo, social ou ambiental?
Isso é possível e já está acontecendo. Um exemplo é a Kick Star Internacional, que projetou bombas de irrigação para agricultores rurais pobres na África. Apesar de possuir ¼ da terra cultivável do planeta, o continente africano é o que mais sofre com a falta de alimento, o que contribui para o aumento da vulnerabilidade da população. A bomba de irrigação permite que o agricultor produza mais, aumentando significativamente seu rendimento, promovendo uma solução para que ele saia definitivamente da pobreza.
É importante deixar claro que as bombas projetadas pela Kick Start são comercializadas e não doadas. Esse foi um passo importante para que o agricultor pudesse valorizar, de fato, o equipamento que está adquirindo, percebendo a qualidade do produto, sua importância para melhorar os resultados e, principalmente, para que ele se sentisse empoderado ao pagar pelo equipamento. A Kick Start comercializa as bombas a um baixo custo, tem margem de lucro em seu produto e, com isso, consegue oferecer qualidade, operacionalizar seu negócio e, consequentemente, escalá-lo. Segundo o site da organização, foram vendidas 310 mil bombas e estima-se que 1,2 milhão de pessoas saíram da linha da pobreza.
O ambiente dos negócios de impacto social está ainda em construção e há muito a ser aprendido. Apesar de ainda incipiente no Brasil, há empreendedores identificando grandes oportunidades. Um deles é o Grupo Carteiro Amigo, que está devolvendo aos mais de 69 mil habitantes da Rocinha o direito básico de receber correspondência. As residências dessas pessoas, assim como as de outras comunidades do Brasil, não têm CEP, número ou nome de rua, pois o governo não cria ruas para residências sem títulos de posse. Dessa forma, o Grupo Carteiro Amigo completa o trabalho dos Correios e das empresas de entrega, ao distribuir correspondências pela comunidade. É cobrada uma taxa e o morador pode abrir uma conta bancária e receber um produto comprado pela internet, por exemplo.
Como moradores de comunidades no mundo inteiro sofrem com o mesmo problema, o Grupo Carteiro Amigo apresenta uma solução escalável e replicável. Trata-se de um modelo de negócio economicamente lucrativo e que, ao mesmo tempo, gera impacto positivo na população de baixa renda.
Outros exemplos nacionais de negócios de impacto social apresentam um modelo que oferece acesso a produtos e serviços básicos, essenciais para que as pessoas se desenvolvam, a partir do acesso a serviços críticos de saúde e habitação. Há o Dr. Consulta, uma rede de centros médicos que oferece consultas médicas e odontológicas a um preço acessível à população de baixa renda, e o Programa Vivenda, que apresenta uma solução de reforma habitacional a pessoas carentes.
As principais características de um negócio de impacto social são: motivação para minimizar um problema social ou ambiental, ou seja, a organização deve apresentar explicitamente a missão de causar impacto; o modelo de negócio deve ser inovador, escalável, replicável e possuir viabilidade econômica, ou seja, ter rentabilidade a partir da venda de produtos ou serviços.
Observando-se o cenário, é certo que há grandes oportunidades para a criação de soluções alternativas, implementadas por empreendedores inovadores, para resolver grandes problemas da sociedade. De acordo com a J.P. Morgan, a indústria global de investimento de impacto social tem o potencial de movimentar US$ 1 trilhão até 2020. Dessa forma, percebe-se que os negócios de impacto social têm se mostrado muito relevantes para a sociedade, mas também uma ótima oportunidade para quem deseja empreender.