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Guia de estilo

julia pessoa coluna 1
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Aos 36 anos, já vivi tempo suficiente para confirmar algumas vezes o clichê de que a moda é cíclica – para bem e para mal. Não que a gente tenha que se vestir assim ou assado de acordo com essa variável tão volúvel e tantas vezes questionável quanto o “tá na moda”.
Vestir-se não está dissociado da vida, então a gente acaba transparecendo nossa personalidade, nossas intenções, nossa política e outras mil facetas enquanto cobre o corpo. Mas deixo essa análise, em que creio convictamente, para especialistas. Dito isso, gosto de observar o vaivém do que se usa.
Comemorei quando as pochetes foram promovidas de bregas e condenáveis a acessórios descolados, estrelas das vitrinas e das ruas. Guardo um afeto especial pelas bolsinhas de cintura. Lembro da minha infância, quando minha mãe punha a sua em volta de si só para liberar os braços e andar de mãos dadas comigo e meu irmão.
No polo contrário, vivo há alguns anos temendo a ameaça de retorno da cintura baixa. É um mal que espreita o universo da moda como aquele vento característico que anuncia um temporal e uiva em janelas de edifícios muito alto: “uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuh a calça Saint-Tropez vai voltar uuuuuuuuuuuuh”. Cruz em credo, deurmelivre.
Quem quiser que use e tá tudo certo, mas trago chagas demais pelo corpo e lembranças do desconforto de ter sempre que dar uma puxadinha ou não poder me sentar de qualquer jeito, sob risco de expor demais. Tenho a recordação nítida de responder, adolescente e impetuosa, aos avisos de colegas de aula de que “a calcinha tá aparecendo”: “Antes ela do que o cofre”. Nunca mais.
Vez ou outra, pago a língua no retorno de alguma peça ou num jeito de usá-la. Foi assim que usei, depois de tanto maldizer, leggings como calça, óculos escuros horrorosos, sandália gladiadora, batons em tons duvidosos e uma lista de coisas às quais hoje – pelo menos momentaneamente – decreto aposentadoria sob a justificativa de “mas onde eu estava com a cabeça?”.
Mas no meu saldo devedor de língua, também me liberto de limitações bestas. Essa semana, correndo para um compromisso, não encontrava parte de baixo para vestir com uma camisa que adoro. “Mas nunca é que eu visto a tal da bermuda ciclista se não for pra malhar”, havia jurado em vão em alguma rede social. Pois não é que a danada me olhou da gaveta, olhei de volta pra ela e foi a tabelinha perfeita pra minha camisa? Vesti e saí, de biker shorts – alcunha bacanuda pra velha conhecida do dress code de ginástica. Feliz da vida, confortável e fashionista.
Coisa boa é se desapegar das certezas que aprisionam e guardar energia para não arredar o pé somente das convicções que importam. Na moda e na vida.

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