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Contra a correnteza do Paraibuna

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Na próxima vez em que voltar a escrever a coluna, depois de minhas férias no próximo mês, os festejos juninos já estarão datados. Como não gosto de perder festa, acho justo que meu “até logo” seja no dia dos 165 anos da terra em que vivemos, amando ou não. Convenhamos: há que se desconfiar de Juiz de Fora. Dos vizinhos de BH, escuta-se que a cidade tem pretensões de Rio de Janeiro. Dos cariocas, tem-se o estereótipo de o povo é algo tal qual o Nerso da Capitinga – só piora quando descobrimos que ele vive aqui.

Diz-se também que honrado poeta juiz-forano – conto o milagre, não o santo – afirmou, sem dó, que feliz é o Paraibuna, por estar aqui só de passagem. Vi jota-efe ganhar mídia nacional com o prefeito preso, e inúmeros personagens de novelas serem pintados como “roceiros” ao se declararem “de Juiz de Fora”. Também noto diariamente a ridicularização de quem ainda se refere a estas bandas como a “Manchester Mineira”, citando uma industrialização que há décadas é tímida.

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Dito isso, se um dia eu deixar Juiz de Fora, carregarei absolutamente nada desta bagagem. Não sentirei falta de andar em pé de ônibus, saindo das aulas na UFJF, mas dos tempos em que não havia tanto perigo – ou noção dele – em juntar mais dois ou três e fazer o trajeto até o São Mateus a pé. Nos dias mais aventureiros, o percurso era feito mediante dedão estendido em pedido de carona. Minha memória será falha para quando reclamei: “Não tem nada para se fazer nessa cidade”, mas estará afiada para os shows a que assisti no gramado do campus, sob uma sombra do parque do museu e para minha escolarização em filmes “alternativos”, assistidos nas poltronas de couro do Palace.

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Não fará diferença se me irritei com pedidos de “uma ajudinha”, de transeuntes que me cutucaram em mesas de bar, mas darei uma risadinha com a lembrança de ter comprado – ou não – três paçoquinhas por um real, recebendo a réplica: “Boa noite e bom divertimento.” Do centro abarrotado e com poucas vagas para estacionamento, não levarei minha inoperância em lidar com os moderníssimos parquímetros, ou minha rabugice com Avenida Getúlio Vargas sempre tão cheia de pessoas e sacolas. Carregarei sim, o sabor inigualável dos cigarretes e o cheiro de pipoca com queijinho, com a recordação de como fica lindo o Calçadão da Halfeld aceso à noite, e como quase ninguém percebe. Na mesma mala, levarei o insubstituível termo “jagodes”, e a forma mais humilde de se agradecer um elogio ao vestuário: “às ordens”.

Que me perdoe o poeta, mas se um dia a vida me levar para outros cantos, e meu tempo juiz-forano acabar sendo como o do Paraibuna, de passagem, não serei feliz por isso. E se sorrir, há de ser daquela saudade agridoce, típica da falta que faz alguém que amamos muito.

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