Entre os muitos aprendizados da vida adulta, talvez o maior e mais perene deles seja o autoconhecimento. A gente passa a juventude toda (sim, esnobes e arrogantes) tendo certeza de quem somos e ainda querendo dar pitaco sobre quem são os outros, só para, com o passar dos anos, perceber que sabemos absolutamente nada. De nós mesmos ou das outras pessoas. E nunca saberemos por completo – que bom! Vade retro uma vida com todas as ações e reações completamente planejadas e previsíveis.
Mas se ele não acaba nunca, por que então celebrar o tão falado autoconhecimento, hype em frases “pode crer” de autoajuda e produtos derivados dela? Justamente por isso. Pelo processo. Eu passo todos os meus dias correndo de um lado para outro fazendo mil coisas, me dedicando à vida “aqui fora”, trabalhando, estudando, fazendo o que todo mundo faz, porque todo mundo precisa. Mas mais frequentemente do que o contrário, tenho o péssimo hábito de olhar para dentro. “É a correria”, minto para mim, e finjo que acredito. Deixa a consciência mais leve – mas não a bagagem da vida.
Passamos tanto tempo tentando ser nosso melhor, nosso eu mais produtivo, mais competente, mais estudado, o que mais pode segurar as pontas de grana, o mais, o mais, o mais… que perdemos de vista quem somos no processo. Um dia, percebi como tinha me afastado de mim mesma em meu passo acelerado. E resolvi parar, olhar para dentro, respirar e pensar por que eu precisava tanto afirmar “eu dou conta”, e passar a viver os dias como um longo enfileiramento de compromissos. Que prêmio ou recompensa eu estava buscando por tentar me manter sempre tão ocupada? Não soube responder.
Ainda hoje, meu tempo é acelerado. Ando apressadamente, pulo de ônibus em ônibus e se vou chegar atrasada, peço um uber – possessa por gastar mais dinheiro, mas sofro de pontualidade patológica. Mas, pouco a pouco, aprendi a dizer não e, sobretudo, a nunca me perder de mim em minhas pequenas maratonas. Hoje corremos juntas, de mãos dadas, tentando sempre que possível ir num compasso mais justo. “Eu dou conta”, ainda. Mas aprendi a não fazer isso às minhas próprias custas.
Afinal, para que a pressa para chegar à linha de chegada/destino final/auge/topo/insira aqui seu conceito de alguma conquista? O percurso é sempre mais longo que o fim da caminhada, e para ser sincera, nem todo fim da linha tem um pote de ouro. Muitas vezes tem só alguém mostrando joias de nióbio de péssimo gosto. Repito o que disse uma vez aqui: “a vida não é uma empreitada de sucesso”, ou, em bom empresariês: “a vida não é um job”. Que a gente sempre encontre um tempinho para nos encontrarmos conosco nas aceleradas e desaceleradas do trajeto.
(Quanto a mim, entro de férias agora, e pretendo ter pressa alguma para ver o que minha companhia – e a de quem amo – me reserva)