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Canção do exílio

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Estamos em exílio. Não do país, até porque expatriação mais se assemelha a um sonho ou um mantra do que a algum tipo de pretensa punição. Não de casa, pois quem tem caráter e possibilidade está em confinamento nas paredes dela. Nosso banimento é uma prisão ao presente, num looping de dias que quiséramos fossem iguais, mas só se tornam crescentemente piores.

Como se fôssemos personagens de um videogame, cada dia equivale a uma nova vida, de chance de matar monstros e pular obstáculos. Seguimos, quem tem mais sorte, escapando, nos safando, sentando o dedo no “continue” e começando tudo de novo. No cárcere da mesma fase, sem qualquer bônus, vamos vendo os monstros de multiplicarem, engrandecerem abocanharem cada vez mais gente. Tentamos conseguir a única vitória possível: continuar escapando.

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O exílio no presente nega terminantemente a passagem pela alfândega que dá acesso a um passado reconfortante, que ainda lá com seus problemas, tinha visibilidade suficiente para que enxergássemos esperança. Tampouco se autoriza a entrada ou sequer o avizinhamento com as fronteiras do futuro. Párias das fronteiras imigratórias do mundo inteiro, estamos também sem autorização – ou qualquer motivo, na verdade – para emigramos para perspectivas melhores. Não por infortúnio, mas por negligência.

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