Como o “climatempo” juiz-forano, sou passível de mudanças bruscas em um pequeno intervalo de tempo, sem aviso prévio. Posso até amanhecer ensolarada, mas tendo a nublar ou esfriar ao longo do dia, e sempre existe – com maior ou menor probabilidade – a chance de que eu chova. Mas não sou muito das de verão, daquelas que tias e avós dizem “isso logo passa”. Quando a temperatura esquenta e os sentimentos ficam em um abafamento quase amazônico, chovo em níveis “o prefeito declarou estado de calamidade pública”. Mas minha calamidade, nada pública, quem declara sou eu.
Ao contrário das prefeituras, não tenho Defesa Civil. Não tem telefone para qual seja possível ligar em caso de desabamento ou enchente. Só posso contar com o órgão “autodefesa”, negligente e corrupto por natureza. Assim, sempre corro risco grave de desmoronamento, ainda que construa bem longe das encostas. Não tem guarda-chuva, muro de contenção ou Rivotril que contenha os desastres.
Na verdade, não sou eu. A existência, ela mesma, em toda sua complexidade, é como a meteorologia aqui por estas bandas do Paraibuna: tudo pode virar a qualquer momento, sem que a gente tenha chance de pegar um casaquinho sequer. Quando uma corrente polar do Atlântico se desloca e nos pega desprevenidos cá em Minas, “morrer de frio” vira expressão mundana nas esquinas de ventos uivantes do Centro. Nos ônibus, escritórios e em casa, fechamos logo a janela, porque a esta altura do ano ou da vida, já não dá pra tolerar tantas quedas bruscas, nos termômetros e em nossas certezas.
Com o tempo a gente se acostuma, simplesmente porque não existe outra alternativa. É aí que, depois de muito tempo de janelas e corações fechados, abrimos o trinco mais uma vez, e sempre. Porque viver é manter a janela aberta, ainda que para tomar chuva ou congelar-se de frio.