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Para casa

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Em tempos não muito distantes de agora, as escolas – ou, pelo menos, as mais caras delas – serão completamente conectadas, papel e caneta serão coisa de gente velha, ou de hipster descolado. A meninada vai é escrever no touch screen, como já faz fora dos ambientes educacionais. Cadernos de caligrafia poderão estar expostos em museus, como evidência de antepassados que se esmeravam para aprender a arte de desenhar letras naquelas linhazinhas.

Nestes tempos, que não tardam, não sei se ainda haverá professores. Pode ser que sim, porque Ô raça pra ser persistente e dura na queda, viu? Mas como nem Jesus, que era o primogênito do hômi, saiu ileso desse planetinha nosso, há grandes chances de que, por tanto levarem porrada – literal e metafórica – eles decidam abandonar de vez o ofício. Coletivamente. Independentemente disso, vai chegar o dia em que os computadores serão os mestres – se é que já não são.

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O que não vai mudar, não importa quantos milênios se passem, são as pessoas, por mais que a constatação nos afogue em desalento. Na escola do futuro, o preto e pobre, quando consegue ocupar uma das carteiras, ainda será discriminado. A gorda ainda vai ouvir xingamentos inomináveis, e vai ser sempre tratada como se fosse menos. O menino afeminado, ainda que não seja ou não se saiba gay, vai sofrer com olhares, exclusão e desrespeito, e, se der sorte, vai escapar de uns murros. As meninas ainda vão ser punidas por suas roupas, muito “distrativas” para os garotos e os professores.

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Na escola do futuro, Lucas, Pedro, Carolina e Luciana estudam na mesma sala. Lucas tem dois pais. Pedro mora com a avó porque nunca teve pai e a mãe morreu em um acidente de carro. Carolina é filha só do Roberto, desde os 3 anos. Luciana mora com a mãe Renata, mas a mãe Solange sempre vem visitar, mesmo não dormindo mais lá. No primeiro dia de aula, as crianças levaram o “Para casa” em suas mochilas de personagens futuros que ainda não conhecemos. Todos quatro cresceram em um país em que família passou a ser, por lei, homem, mulher e seus filhos. Dizia a lição de casa: desenhe aqui sua família. Lucas, Pedro, Carolina e Luciana devolveram a folha em branco. E tiraram a nota máxima. Que morte horrível, Brasil.

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