Com pesar, venho informar que nesta semana não tem coluna, como já aconteceu outras vezes. Os pensamentos já estavam encomendados desde o início da semana, consultei o código de rastreamento e estava tudo certo: as ideias iam chegar no prazo, como de costume. Mas aí o país parou. E minha entrega ficou pelo meio do caminho.
Eu sempre serei a favor de qualquer movimento genuinamente trabalhista, por convicção, por ter estudado história, por ser da “turminha dos direitos humanos” e por ser filha de uma incansável sindicalista. Mas existe algo de muito podre no reino das rodovias estagnadas quando, dos caminhões em atividade no país, 1.088.358 são veículos com caminhoneiros contratados por empresas, 553.643 são de motoristas autônomos e 22.865 são de cooperativas de caminhoneiros. Não sou eu que estou dizendo, é o Anuário da Confederação Nacional do Transporte (CNT) de 2017. Eu sou de humanas, façam a conta e vejam quem realmente está ou esteve mexendo os pauzinhos da greve. Locaute. Greve. Locaute. Greve. Há algo de muito obscuro, de qualquer jeito.
Por isso mesmo, não vai ter coluna. Porque está difícil de engolir vidros de boleias pichados com dizeres pedindo intervenção militar. Porque tá mais difícil ainda ouvir que as “forças federais” farão o desbloqueio das rodovias – e sabe mais onde atuarão. Porque eu já bati boca com um uber que não estava entendendo o contrassenso de se fazer uma carreata de protesto num momento em que não há combustível na cidade. Não vai ter coluna hoje, eu bem que tentei. Se bem que eu sou tão teimosa, tão clichê e tão insubordinada, que mais uma vez teve coluna, uma anticoluna. Porque, para bem e para o mal, aqui não tem intervenção que silencie o que me inquieta a cabeça e faz meus dedos digitarem.